O cultivo do cafeeiro das variedades conilon e robusta (Coffea canephora), é a principal cultura perene e importante fonte de geração de emprego e renda para estados como Rondônia, Espírito Santo e Bahia, sendo a principal fonte de renda econômica para muitos agricultores familiares.
Em Rondônia, por exemplo, o setor cafeeiro sinaliza para duas direções aparentemente opostas, mas convergentes para as áreas do melhoramento genético e do manejo cultural do café conilon. Nos pólos cafeeiros mais tecnificados de Cacoal e Rolim de Moura, situados na região centro-sul do Estado, há uma expressiva demanda por tecnologias modernas, com destaque para o uso de novas cultivares clonais em condições de sequeiro e com irrigação suplementar. Enquanto nos demais pólos, há necessidade por cultivares de conilon produzidas a partir de sementes, visando atender, principalmente, à agricultura familiar.
Outra importante demanda de pesquisa é o desenvolvimento de tecnologias que viabilizem economicamente a mecanização da colheita do café conilon. O crescente desenvolvimento dos demais setores econômicos do Estado tem acelerado a migração rural urbana provocando escassez de mão de obra no campo. Nessas circunstâncias, a cafeicultura estadual passou a ser um dos setores da economia rural mais afetado devido à elevação dos custos da mão-de-obra necessária na operação da colheita do café, além dos crescentes aumentos verificados nos preços dos insumos agrícolas, como o calcário dolomítico e os agrotóxicos.
Soluções
Buscando viabilizar soluções alternativas quanto à escassez de mão-de-obra rural e, também, buscar a melhoria da qualidade do café conilon rondoniense, nos dias 27 e 28 de abril, em Porto Velho, a Embrapa Rondônia, em parceria com a Embrapa Café (Brasília, DF), promoveu uma oficina de trabalho sobre a viabilização tecnológica da mecanização da colheita do conilon.
Participaram da reunião algumas das principais instituições de pesquisa e desenvolvimento do café no Brasil: Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), além da Embrapa Café, Embrapa Cerrados e da própria Embrapa Rondônia e da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri). Como convidados estiveram presentes, ainda, o professor de “machine systems” da University of Kentucky, Scott A. Shearer, e o engenheiro agrônomo representante de produtos da Empresa Jacto, Walmi Martin.
Entre as questões discutidas no evento estavam: nivelamento dos participantes quanto ao desempenho agronômico e econômico dos sistemas de produção de café em Rondônia; avanços tecnológicos alcançados na pesquisa acadêmica e na aplicada nas universidades de Lavras e Viçosa (MG), assim como pela empresa Jacto, na colheita mecanizada do café arábica nos cerrados de Minas Gerais; e a formação de uma rede de pesquisa interinstitucional visando ao desenvolvimento de opções tecnológicas para o manejo e a colheita semi-mecanizada ou mecanizada do cafeeiro conilon e robusta.
Para os pesquisadores da Embrapa Rondônia, a mecanização da colheita do café conilon pode ser uma alternativa viável que, além de reduzir o tempo de colheita, a demanda de mão-de-obra e os custos variáveis de produção em até 40% na colheita manual, poderá contribuir positivamente para a profissionalização qualificada e melhoria da renda dos trabalhadores autônomos responsáveis pela colheita do café no Estado.
A equipe da Unidade, responsável pelo melhoramento genético do conilon, passa a considerar, entre outros critérios já em uso de seleção para o lançamento de novas cultivares clonais, plantas de café com maior uniformidade de maturação dos frutos, arquitetura ereta ou semiereta, menor desfolhamento da planta na colheita (manual e semi-mecanizada), espaçamentos mais adensados entre plantas e podas de condução/produção que possibilitem incrementar a eficiência e eficácia da colheita mecanizada dos cafeeiros conilon e robusta.
As pesquisas realizadas pelo Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras apontaram que todo o processo de mecanização da colheita do conilon e do robusta, assim como foi para a do cafeeiro arábica, dependerá da adaptação simultânea da arquitetura das plantas, do manejo e dos tratos culturais, além da máquina colheitadeira do café.
Após visita em lavoura de café conilon e intensa discussão técnica entre os participantes do evento, foi elaborado o esboço de um projeto de pesquisa multidisciplinar e interinstitucional, liderado pelo pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, visando desenvolver alternativas para a motomecanização do café, inicialmente em Rondônia e no Espírito Santo, além de assegurar o atendimento das demandas imediatas e futuras quanto à geração de novas tecnologias para a cafeicultura nacional.
Inicialmente, a rede de pesquisa e difusão tecnológica para a mecanização da colheita em café conilon será composta pela Embrapa Rondônia, Embrapa Café, UFV, UFLA e Incaper. O projeto será submetido ao próximo edital de pesquisa do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, e contará com a parceria da empresa Jacto, da Emater de Rondônia e da Secretaria de Agricultura de Rondônia.
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