O setor agroexportador brasileiro vive um dilema nos dias atuais. Ao mesmo tempo em que todas as previsões apontam para um sucesso ainda mais evidente do Brasil no mercado de commodities agrícolas, as cadeias produtivas vão perdendo competitividade no mercado internacional.
Os preços de quase todos os produtos estão em patamares elevados, em Reais. E o Real em si é apontado como um das moedas mais valorizadas do mundo, em comparação ao dólar. O resultado desse binômio é o significativo aumento dos preços de produtos de origem brasileira no mercado internacional.
Essa situação assusta a todas as cadeias. Das mais competitivas, como o setor de carnes e soja, por exemplo, aos que ainda temem a entrada de produtos importados, como o setor de lácteos. A perda de competitividade apavora; e o câmbio é apontado como uma das grandes causas.
E tem lógica. As cotações médias mensais do dólar, nos últimos três meses, se aproximam dos patamares de janeiro de 1999, quando foi registrada a primeira maxidesvalorização do Real, que deixou a paridade dos primeiros anos de Plano Real para trás.
Observe a evolução do dólar na figura 1.
Figura 1.
Evolução das cotações do dólar entre janeiro de 1999 e junho de 2011
Os valores do dólar atuais circundando entre R$1,58 a R$1,61 por dólar estão apenas entre 5,5% a 6,0% acima das cotações daquele período. Considerou-se valores nominais do Real para a comparação de preços.
A chegada do câmbio a patamares anteriores aos do início de 1999 não deixa de representar, em si, uma barreira psicológica para o setor agroexportador. Grosso modo, as condições estariam voltando aos difíceis anos do início do plano Real. Realmente é de assustar.
E com razão as lideranças do setor clamam por medidas governamentais no sentido de frear a escalada do Real diante do dólar.
No entanto, analisando pragmaticamente, o Governo está de mãos atadas para resolver a questão cambial. Medidas tradicionais da política econômica não são suficientes para conter a escalada do Real. A as alternativas que sobram não são opções viáveis para um país que deseja participar do mercado externo, pois envolvem controle ou fechamento da economia.
A compra de dólar pelo Banco Central para enxugar o mercado também é insuficiente, pois suplanta a capacidade financeira do tesouro nacional.
E a razão de tudo é até simples. O problema do câmbio não é referente apenas ao nosso país. O dólar está desvalorizado, o que eleva as cotações de diversas moedas diante da dos norte americanos.
Em recente apresentação para empresários e lideranças jovens do setor Agro, a LCA Consultores demonstrou que o valor real do dólar (corrigindo a inflação norte americana) atingiu os patamares mais baixos desde 1973. O valor atual está abaixo do que foi registrado nas duas crises do petróleo e nas crises subsequentes, incluindo a de 2008.
Por isso é difícil imaginar que políticas internas no Brasil sejam suficientes para conter a desvalorização do dólar. É uma questão de tamanho comparativo entre as economias.
A notícia boa em tudo isso é que há possibilidades dos americanos mexerem em sua economia, elevando o valor do dólar em todo o mundo.
Ainda assim, comparativamente, o Brasil ainda teria uma moeda mais valorizada em relação a outras partes do globo.
Esse é o preço do sucesso. Balança comercial positiva e atratividade de investimentos pressionam para baixo as cotações da moeda internacional usada nas negociações. No caso, o dólar.
Pois bem, a realidade monetária é essa e o Brasil precisa aprender a ser competitivo dentro de tais níveis.
A fragilidade do setor agro dos primórdios do plano Real não existe mais. Em todas as cadeias produtivas o nível tecnológico, a gestão e a capacidade de resposta é bem superior ao que existia antes de 1999. O produtor brasileiro está mais maduro.
Mesmo assim, ainda há muito o que melhorar em termos de competitividade. Os produtores e a agroindústria estão fazendo a sua parte, modernizando-se ano a ano.
O grande gargalo fica nos problemas, cujas soluções viraram quase um mantra nas reuniões setoriais. Trata-se de logística, capacidade de armazenagem, modernização de portos, segurança no campo, etc.
Em resumo, os gargalos de competitividade do Brasil não estão relacionados ao setor produtivo, mas sim às questões infra estruturais e institucionais. A verdade é que o país não se moderniza na mesma velocidade do campo.
Voltando ainda à questão de competitividade, é preciso lembrar que ser competitivo não é apenas oferecer o melhor preço. Além do preço é preciso ter capacidade de atender a demanda.
E essa uma das grandes razões pelas quais os preços internacionais das commodities agrícolas estão em alta. É a realidade do efeito inflacionário no mundo, o que tanto tem preocupado órgãos internacionais nos últimos meses.
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