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     24/11/2024            
 
 
    

A sucessão soja-milho ou milho safrinha após soja está se tornando uma modalidade de produção muito importante tanto para a viabilização econômica da agricultura brasileira, como para o aumento da produção brasileira de soja e de milho sem aumento proporcional da área cultivada, favorecendo a otimização do uso do solo e dos recursos ambientais no Brasil. Para que esta dupla produção em um mesmo ano agrícola se torne possível e viável economicamente, em várias regiões agrícolas brasileiras tem sido de fundamental importância o ajuste do ciclo da cultivar de soja de forma a que a soja seja colhida antecipadamente a tempo de o milho safrinha ser imediatamente plantado e, assim, consiga crescer, florescer e encher grãos com condições climáticas (chuva e temperatura) adequadas a uma produtividade economicamente viável.

Além de possibilitar a otimização do solo, das máquinas e mão-de-obra da propriedade agrícola, a sucessão soja-milho permite que a soja seja colhida em uma época de mercado aquecido e preços melhores do que os obtidos no auge do período de colheita. A possibilidade de uma boa safra de milho safrinha é altamente dependente das condições de chuva e temperatura reinantes na fase vegetativa da cultura e até pelo menos 30 dias após o florescimento do milho. Além desta possibilidade, há ainda a complementaridade na exigência nutricional entre soja e milho. Enquanto a soja deixa resíduos de nitrogênio que são altamente responsivos ao milho, este possui um sistema radicular mais eficiente do que o da soja na absorção de fósforo, que fica remanescente no solo após a colheita da soja. E a palha de boa qualidade que o milho deixa para o sistema de plantio direto da soja subsequente.

A prova de que a sucessão soja-milho veio para ficar é vista no crescimento da área de produção de milho safrinha no Brasil nos últimos anos. Em 1980 o mercado de milho no Brasil dava início a uma mudança no quadro de oferta. Mesmo que ainda timidamente, a produção de milho passou a ter oficialmente a segunda época de plantio com os primeiros plantios no Nordeste brasileiro. Na safra de 1983/84, representando apenas 6,5% da área total e 5,6% da produção total do Estado, iniciava-se no Paraná uma segunda safra de milho plantada em sucessão à safra oficial de verão. Nascia, então, o que hoje é oficialmente reconhecido como safrinha. Posteriormente, cresceu no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Sudoeste Goiano, e expande para outras regiões agrícolas a cada ano.

O cultivo de milho safrinha vem apresentando grandes avanços tecnológicos nesses últimos anos. Até meados da década de 90, a safrinha ocupava pouco mais de 1,5 milhão de hectares, respondendo por apenas 10% da produção total com produtividade média ao redor de 2.100 kg/ha. A partir da melhoria da tecnologia de soja e milho, a sucessão de culturas, com o milho após a colheita da soja, a produção e a área de milho safrinha tem aumentado anualmente no Brasil Central. Atualmente, a safrinha representa mais de 35% de toda a produção de milho nacional, ocupando mais de 4,5 milhões de hectares com produtividade média acima de 3.500 kg/ha. Ao longo dos últimos 15 anos, a área de milho safrinha teve incremento de mais de três milhões de hectares e a produtividade média praticamente dobrou durante este período. O sucesso na safrinha não é mais um acaso. A interação entre genética e adoção e integração de diversas práticas de manejo vem permitindo e assegurando aos agricultores elevadas respostas em produtividade.

Conforme sugerido no primeiro parágrafo deste artigo, o cultivo de milho safrinha na região do Cerrado é um cultivo de risco e a sua viabilidade econômica depende da quantidade de chuva e calor que recebe durante o ciclo de produção. A falta de água no final do ciclo reprodutivo é o maior limitante à produtividade do milho nesta região do Brasil. Portanto, a existência de cultivares de soja com ciclo suficientemente curto, é o fator decisivo para a viabilidade da safrinha de milho no Cerrado. A escolha de cultivares de soja de ciclo curto como estratégia de antecipar o plantio da safrinha tem sido uma das principais razões do sucesso neste cultivo nos últimos anos. Com a antecipação da colheita de soja e, por consequência, a possibilidade de realizar o plantio do milho dentro da época ideal, minimiza-se alguns efeitos de estresse como, por exemplo, a estiagem nas regiões do Mato Grosso e Goiás, bem como a inversão térmica e as geadas que ocorrem nas regiões sul do Mato Grosso do Sul.

Com a chegada ao mercado de cultivares de sojas precoces nestas regiões, as áreas de milho safrinha tem-se ampliado para municípios onde antes a safrinha não era praticada. Atualmente quase 50% da produção brasileira de milho é proveniente da safrinha, e a produtividade da safrinha tem ficado em torno de 4000 kg/ha, que é muito semelhante à média da produtividade do milho verão. Ao se observar este fato, verifica-se que a área utilizada para a produção de milho safra (plantio no verão) está se reduzindo, já a quantidade de área agrícola utilizada tanto para a produção de soja e milho safrinha está aumentando, bem como a produção de milho total do Brasil que está crescendo proporcionalmente ao aumento das áreas de safrinha de milho.

A produtividade do milho safrinha começa no planejamento do plantio da soja precoce no verão. A cultivar de soja a ser escolhida deve ser a mais precoce possível, sem perder o potencial produtivo, pois deve pagar os custos de produção e deixar pelo menos algum lucro para ajudar a financiar o plantio do milho safrinha. A precocidade da cultivar de soja é muito importante, pois cada dia de antecipação da colheita da soja pode significar um ganho relevante de produtividade do milho. Vários trabalhos têm mostrado perdas de rendimento em função do atraso de plantio do milho safrinha. (a cada dia de atraso no plantio do milho safrinha correspondem perdas de até 90 kg de grãos por hectare em relação à época ideal).

No cultivo da soja precoce, deve-se aplicar uma adubação condizente com boa produtividade porque as cultivares precoces são exigentes e possuem pouco tempo para absorção, metabolização e transformação dos fotoassimilados em grãos. A inoculação com Bradyrhizobium japonicum é uma prática muito importante não somente para a soja precoce, mas também para o milho safrinha, pois garantirá o suprimento de nitrogênio para a soja precoce e para o milho safrinha. A escolha da cultivar de soja é estratégica, e ciclo o mais curto possível tem importância óbvia. Alem do ciclo curto, a cultivar de soja deve adaptar-se à região de plantio e expressar o seu potencial produtivo. A cultivar deve ter a característica de crescer no cedo, pois o vazio sanitário termina em meados de setembro em Mato Grosso e quinze dias depois no restante do Cerrado.

Muitas das cultivares de ciclo curto existentes no mercado atualmente não têm capacidade de crescer nos plantios realizados nos meses de setembro e primeira quinzena de outubro. Com isso, se forem utilizadas, não terão capacidade de resultar em boas produtividades e não terão altura suficiente para permitir boa operação de colheita, aumentando as perdas. Outra característica importante é a resistência a nematoides. Isso se deve ao fato de que, conforme explicado acima, as melhores áreas para plantio de safrinha devem ser as áreas mais férteis da propriedade. Estas, normalmente são aquelas cultivadas há mais tempo, e geralmente agregam como fator positivo a maior disponibilidade de nutrientes, e também como fator negativo a maior probabilidade de possuírem contaminações com nematoides. Entre os mais importantes o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita) e o nematoide dos danos radiculares (Pratylenchus spp.). Entre as cultivares de soja precoces disponíveis no mercado e adaptadas ao plantio no Cerrado, poucas são as que possuem resistência aos nematoides. Por isso, devem-se conhecer os talhões quanto à presença deles (através de análises prévias), e posteriormente fazer a escolha da cultivar de soja a ser utilizada no sistema de sucessão de culturas soja-milho.

Atualmente a sucessão soja-milho tem sido crescente nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Sudoeste de Goiás e Mato Grosso. Nestas regiões, esta modalidade de agricultura tem sido facilitada por um regime de chuvas mais prolongado e temperaturas menos frias no final do ciclo do milho, quando comparados a outras regiões do País, onde a sucessão soja-milho ainda não é tão amplamente praticada. Por isso, a expansão da sucessão soja-milho para outras regiões do Brasil é muito dependente do desenvolvimento de boas cultivares de soja de ciclo mais curto do que as existentes atualmente.

 

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