O projeto Aquabrasil pretende promover um salto tecnológico na aqüicultura brasileira, atendendo às principais demandas da cadeia produtiva aquícola. Para isso está atuando especialmente na obtenção de alevinos de desempenho superior, via melhoramento genético.
O projeto utiliza alevinos geneticamente melhorados, com manejo e gestão ambiental associados a boas práticas de manejo, oferece alimentos nutricionalmente balanceados, em consonância com os hábitos alimentares de cada espécie, e promove a identificação e controle sanitário integrados. Assim, será possível produzir matéria prima de alta qualidade, passível de processamento agroindustrial e capaz de atender os mercados interno e externo.
Significa colocar ao alcance da população peixe nas mais diferentes formas para consumo, como in natura, filetado, cortes especiais e processados, como nuggets, fishburguers e queneles. Além disso, o projeto contempla seus derivados, como o couro para bolsas, cintos, estojos e coletes. Sem falar na farinha de peixe, que pode ser adicionada aos mais diferentes produtos, oferecendo, por exemplo, biscoitos doces e salgados e snacks enriquecidos, atendendo às necessidades de alimentos mais saudáveis.
Ao final, o que seria o último resíduo do processo de aproveitamento –como as vísceras–, pode ser transformado pelo processo de silagem, em fertilizante, propiciando o aproveitamento integral do peixe. Tudo isso a preço acessível a toda a população, de forma que se consuma o peixe como se consome o frango hoje. Também temos a meta de tornar o Brasil exportador de peixe, pois hoje somos mais importadores que exportadores. Isso é possível, pois o Brasil detém 12% de água doce do mundo e a maior parte da produção de peixes no mundo é de água doce.
Para chegarmos lá, precisamos, por exemplo, de melhoramento genético, a exemplo do que ocorreu com a soja, o milho e outros produtos, que levaram o Brasil a se transformar em um dos maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas.
Para que esses resultados sejam alcançados no mais curto espaço de tempo possível, foram colocados no projeto Aquabrasil foco e prioridade. O foco refere-se à escolha das espécies a serem objeto de pesquisa. Foram escolhidas as espécies de importância nacional, como a tilápia e o camarão branco, e regional, como o tambaqui, para o Norte e Nordeste, e o surubim cachara, para o Centro-Oeste e Sudeste. As prioridades de pesquisa, para cada uma dessas espécies foram definidas como a cadeia produtiva de cada uma delas, da fazenda ao consumidor, como colocado no início do artigo.
Entretanto, o grande desafio era que nenhuma das instituições no Brasil, públicas ou privadas, tinha a competência e infra-estrutura suficientes e necessárias para executar um projeto dessa envergadura. A solução foi desenvolver uma rede de pesquisa, aliando todas as competências necessárias em termos de capital intelectual, bem como de infra-estrutura para o desenvolvimento de todas as atividades. E não são poucas: elas vão do melhoramento genético, passando pelo conhecimento das exigências nutricionais, dos aspectos sanitários, do manejo e gestão ambiental dos sistemas de cultivo, chegando ao aproveitamento agroindustrial. Para tanto, a rede de pesquisa conta com a participação de 16 unidades de pesquisa da Embrapa, 22 universidades/instituições de pesquisa e oito empresas privadas.
O projeto encontra-se no seu quarto ano de execução, e como resultados, podemos apresentar o melhoramento genético da tilápia GIFT (genetically improved farming tilápia) que, introduzida da Malásia no Brasil em 2005, já completou a avaliação de desempenho da sua quarta geração, com ganho de 28% em relação à linhagem original introduzida. Dessa forma, o tempo de engorda está sendo reduzido e, com isso, diminuem os custos de produção. A tendência é que o peixe chegue ao mercado com preços mais acessíveis ao público consumidor.
Para as espécies nativas, as famílias fundadoras de tambaqui e cachara encontram-se abrigadas na empresa Delicious Fish, a partir das quais estaremos selecionando os descendentes de melhor desempenho, de cada uma das famílias, em termos de ganho de peso para a continuidade do programa. Os demais exemplares de melhor desempenho serão transferidos imediatamente aos parceiros privados do programa para que disponibilizem alevinos mais produtivos para a engorda.
Os resultados já obtidos com espécies melhoradas mostram que o ganho em termos de crescimento pode alcançar 15% por geração, implicando que, se hoje, por exemplo, gastamos um ano para o tambaqui alcançar tamanho comercial, em cinco gerações melhoradas poderemos estar gastando apenas seis meses. Isso é muito significativo em termos de custos de produção e, conseqüentemente, no preço final ao consumidor.
Nos próximos artigos desta coluna estaremos apresentando com mais detalhes cada um dos tópicos do projeto Aquabrasil. Fiquem em contato para saber mais detalhes dos resultados do projeto.
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