A agricultura não objetiva apenas o aumento de produtividade, mas também o aumento da eficiência do uso da terra, da mão de obra e dos recursos financeiros, devendo considerar o clima, a localização da propriedade, o tipo de solo, o mercado, e as políticas governamentais e internacionais. Portanto, requer a aplicação de novos conceitos, intervenções políticas, compreensão dos constrangimentos dos produtores e adequação das instituições. Repensar o modelo de transferência de tecnologias passa a ser preponderante neste contexto. Analisando os trabalhos de diversos autores, identifica-se que, já no início dos anos 1980, o modelo de transferência de tecnologia não atendia às necessidades dos produtores e da pesquisa. As diferenças de produção entre as obtidas nas áreas da pesquisa e nas propriedades rurais, como também dentro das propriedades rurais e entre elas, eram significativas. Existia a noção de que o modelo consagrado (pesquisa - conhecimento - transferência - adoção) era lento para criar mudanças. A fórmula “visita aos produtores + dias de campo + unidades demonstrativas + publicações” não atendia às necessidades dos produtores – era muita energia despendida para pouco retorno.
Em 1986 foi proposto, pelo serviço de extensão rural da Austrália, que os agricultores deveriam monitorar a lavoura e verificar se os indicadores de sustentabilidade escolhidos tinham sido atingidos. As bases do procedimento proposto consistiam em três itens: a) Objetivo específico de atingir alta produtividade, de forma generalizada, para todos os produtores, não deve ser prescrito como forma de determinar o sucesso ou fracasso de um determinado produtor. O objetivo de produtividade, ou qualquer outro indicador, deve ser estar relacionado a ele próprio, não importando se este produtor está abaixo ou acima da média dos demais; b) A estratégia de transferência de tecnologias deve ter um objetivo claro e o comprometimento de todos os envolvidos. Os agricultores não podem ser considerados meros recebedores (passivos) da tecnologia, mas ser parte do processo de mudança necessária para o sucesso. É importante apresentar as tecnologias como parte de um pacote de componentes integrados, porém sem ignorar os componentes individuais. Finalmente, é fundamental que as práticas de manejo sejam mensuráveis, de forma a facilitar a implementação e a avaliação; c) Para a implantação da proposta, primeiro deve ser identificado o fator-chave na produção. Para tanto, deve ser valorizado o conhecimento dos pesquisadores, extensionistas e produtores. Realizando esse processo ano após ano, o produtor, gradualmente, melhora o sistema de produção da sua propriedade.
A primeira fase do processo é identificar os objetivos a serem atingidos. Normalmente os agricultores identificam que seus objetivos estão relacionados aos seguintes aspectos: lucro, produção, mão de obra, fatores abióticos, natureza, saúde e bem-estar. Utilizar um número elevado de objetivos gerais, semelhantes ou mesmo conflitantes, não é recomendado. Sugere-se que os agricultores identifiquem poucos objetivos, transformados em critérios e padrões que, depois de quantificados, irão funcionar como alvos para orientar o processo de manejo da propriedade.
A segunda fase do processo é identificar as práticas agrícolas relevantes. O produtor será instigado a identificar e explicar os fatores de produção relacionados aos indicadores escolhidos e encontrados em determinadas áreas da propriedade rural. Posteriormente, por meio de um processo de facilitação, o produtor será orientado a identificar quais desses fatores de produção não estão sendo executados nas áreas com baixa produtividade, por exemplo. O ideal é escolher práticas que atendam a mais de um objetivo ao mesmo tempo baseando-se no conhecimento existente nas instituições de pesquisa e na experiência dos produtores. A criação de um protótipo teórico de produção pode auxiliar o produtor a visualizar as relações que existem entre possíveis práticas e os objetivos selecionados. No entanto, o produtor precisa de um método que permita monitorar o sucesso do manejo integrado de sua propriedade, informando quão longe ele está de atingir seus objetivos.
A terceira fase vem a ser a identificação dos métodos de avaliação. São três as informações fundamentais a serem determinadas neste processo: a) Nível de referência: pode ser utilizado com atributos da natureza (matéria orgânica do solo é um exemplo). Normalmente, este nível está correlacionado a uma situação onde a ação antrópica foi mínima. Para outros atributos, podem-se considerar níveis máximos ou mínimos possíveis de serem atingidos; b) Nível ideal: considerando o nível de referência do indicador, o produtor e o facilitador determinam um nível no qual ambos concordam que o processo agrícola transcorrerá bem. Isto significa que a relação custo/benefício de sua manutenção está em equilíbrio e é aceitável. Pode ser um valor obtido experimentalmente, mas também resultante de ponderações, bom senso e informações técnicas; c) Nível crítico: é o ponto a partir do qual o sistema começa a operar com problemas graves e o ato de produzir torna-se economicamente ou tecnicamente inviável. É fundamental que as ações para impedir que o indicador atinja este nível ocorram de forma prioritária. De nada adiantará possuir uma grande quantidade de indicadores próximos do nível ideal se um deles estiver próximo do nível crítico, pois será este último que irá determinar o sucesso do empreendimento rural. A Tabela 1 e Figura 1 ilustram como o produtor pode visualizar seus objetivos quantificados.
O produtor, ao invés de supor ou imaginar, passa a descobrir o que realmente está ocorrendo na lavoura. A característica mais importante é o emprego de indicadores na lavoura, por meio da adoção progressiva dos seguintes passos: Observar a lavoura em detalhes e regularmente fazendo-se caminhadas no seu interior. Não manejar a lavoura da estrada ou na porteira. Não assumir que tudo está bem. Medir os itens que foram julgados como importantes usando uma régua ou trena é melhor do que usar o passo ou palmo. Carregar a caderneta de campo durante as vistorias. Anotar as avaliações, pois garantirá sua disponibilidade mais tarde. Depender da memória não é uma atitude recomendável. Interpretar resultados para identificar problemas e sucessos em áreas específicas, pois isso ajudará a identificar áreas que alcançaram às metas propostas e as que precisam receber atenção em seu manejo. Agir para resolver os problemas na próxima safra. Aprender com as experiências.
Figura 1. Parametrização dos objetivos-porcentagem da situação atual em relação à situação desejada.
Tabela 1. Parametrização dos objetivos
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