O surgimento das plantas daninhas ocorreu junto com o desenvolvimento da agricultura, há cerca de 12 mil anos. No início, havia maior equilíbrio entre as diversas espécies. Com o crescimento da população e, conseqüentemente, maior interferência humana nos cultivos, iniciou-se um processo gradual de seleção. As espécies sem interesse agrícola passaram a ser indejesadas e sua multiplicação e alta capacidade de adaptação permitiu-lhes sobreviver a diversos ambientes, tornando-se necessário a adoção de medidas de controle.
Atualmente, não há dúvidas de que a presença de plantas daninhas cause prejuízos aos agricultores. Em média, cerca de 20-30% do custo de produção de uma lavoura se deve ao custo do controle das plantas daninhas. Geralmente, apresentam crescimento rápido e facilidade de disseminação, produzem grande número de sementes e crescem em condições adversas.
Seus prejuízos estão diretamente relacionados às perdas na produtividade e na qualidade dos produtos. Um exempo típico é o que ocorre com sementes de picão-preto (Bidens pilosa) no cultivo do algodoeiro. Muitas espécies também são extremamente danosas em campos de sementes, pois podem impedir a sua certificação. Em áreas de pastagem, espécies como cafezinho (Palicourea marcgravii) e oficial-de-sala (Asclepias curassavica) intoxicam os animais levando-os à morte.
Outras espécies podem, também, parasitar plantas. Exemplo comum no Brasil ocorre com a erva-de-passarinho (Phoradendron rubrum) em citros, ocasionando perdas na produção e morte das plantas. Em outros países, ocorre o parasitismo em plantas de milho ocasionado pela erva-de-bruxa (Striga lutea), espécie daninha de difícil controle devido ao seu desenvolvimento abaixo da superfície do solo.
Indiretamente, as plantas daninhas também podem afetar as lavouras, sendo hospedeiras de pragas e doenças. No caso das guanxumas (Sida ssp.), a maioria é hospedeira do vírus do mosaico-dourado do feijoeiro, transmitido pela mosca-branca. O capim-massambará (Sorghum halepense), hospedeiro do vírus do mosaico da cana-de-açúcar, está geralmente presente em canaviais. Demais prejuízos indiretos ocorrem pela dificuldade de colheita na presença de plantas daninhas como corda de viola (Ipomoea sp), carrapicho (Cenchrus echinatus), unha de gato (Acassia plumosa) e mucuna (Mucuna pruriens) ou mesmo pela dificuldade de manejo após o cultivo, depreciando o valor da terra, a exemplo do que ocorre pela tiririca (Cyperus rotundus).
Além das áreas agrícolas, o manejo de plantas daninhas é importante, também, em áreas industriais, ferrovias, espaços públicos ou mesmo em represas para geração de energia elétrica. Nesses corpos d’água, espécies como taboa (Typha angustifolia) e aguapé (Eichornia crassipes) proliferam rapidamente. Durante o processo de passagem da água pelas turbinas, a massa densa dessas espécies interrompe o fluxo normal, danifica e onera a manutenção dos equipamentos. Outras plantas como salvínia (Salvinia molesta) e alface d' água (Pistia stratiotes) aumentam as perdas de água, pois reduzem o seu aproveitamento.
Entretanto, muitos benefícios também podem ser obtidos pelo conhecimento e uso correto de plantas daninhas. Devido a sua velocidade de crescimento, muitas são usadas no controle da erosão em áreas degradadas, como o que ocorre com as gramíneas (Brachiaria brizantha, B. decumbens, B. ruziziensis e Panicum maximum). Outras são utilizadas nos processos de fitorremediação, permitindo a retirada ou degradação de compostos residuais no solo, ou seja, além de absorver água e nutrientes que as fazem crescer, algumas espécies são capazes de absorver elementos poluentes, funcionando como filtros biológicos, como exemplo para Stizolobium aterrimum, Lupinus albus e Canavalia ensiformes, entre outras.
Muitas espécies consideradas daninhas podem ainda servir na medicina para tratamento fitoterápico a partir da infusão de folhas, a exemplo do uso popular de quebra-pedra (Phyllanthus niruri) ou da urtigueira (Urtica dioica), ou fornecendo inúmeros compostos para sua extração. Algumas plantas daninhas servem também de alimento para inimigos naturais ou mesmo para as abelhas melíferas, como o assapeixe (Vernonia polyanthes) e a vassourinha de botão (Borreria verticillata).
Desta forma, com tantas vantagens e desvantagens, devemos utilizar boas práticas de gestão das plantas daninhas, principalmente no ambiente agrícola. O manejo integrado é uma das práticas que se inicia com a escolha do local de semeadura e da variedade, a qual deve ser adequada à fertilidade e ao pH do solo. A densidade de semeadura e o espaçamento correto também facilitam o seu manejo durante o cultivo. O manejo químico, apesar de importantíssimo, deve levar em consideração a dinâmica das plantas, as práticas culturais e o sistema de semeadura utilizado, assim como, a tecnologia disponível.
O manejo após o cultivo é outra questão importantíssima na redução da infestação e que deve ser considerado na gestão de plantas daninhas.Todavia, o que se observa é o uso inadequado das tecnologias e perda de controle de muitas espécies daninhas. Um exemplo é o que ocorreu com a introdução da soja resistente ao glifosato. Com o uso contínuo e exagerado deste herbicida, biótipos resistentes das espécies buva (Conyza bonariensis), capim amargoso (Digitaria insularis), azevém (Lolium multiflorum) e leiteiro (Euphorbia heterophylla) já foram selecionados e outras espécies também apresentam tolerância como trapoeraba (Commelina benghalensis) e erva quente (Spermacoce latifolia), entre outras.
Recentemente, a Embrapa, em conjunto com a iniciativa privada, está trabalhando no lançamento de soja resistente ao grupo químico das imidazolinonas, como nova alternativa no manejo de plantas daninhas. Porém, a orientação de uso da tecnologia deverá ser repassada para os produtores, para não ocorrer novos casos de resistência.
A partir do proposto, o manejo integrado deve combinar métodos de controle preventivo e curativo, sem se esquecer do conhecimento prático das características de cada espécie de planta daninha. Novos programas de controle devem ser avaliados para garantir o avanço tecnológico, que deverá focar, principalmente, na determinação das características biológicas e nos mecanismos de competição entre as espécies. Por meio da gestão integrada de plantas daninhas é possível reduzir sua interferência nos cultivos agrícolas, sem comprometer as demais áreas.
Artigo originalmente publicado em 05/05/2011
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