A catástrofe natural que se abateu sobre o Japão no mês passado provocou comoção no mundo pela magnitude, impacto e danos sociais e econômicos provocados, e tem rapidamente chegado a afetar os preços das commodities agrícolas no mercado internacional e repercutido nos preços praticados internamente ao produtor brasileiro.
A terceira potência mundial, com um Produto Interno Bruto per capta de US$ 34.300 por ano e exporta US$ 700 bilhões. Desse valor, 36% são exportados para os Estados Unidos e China, sendo que, desses mesmos países, o Japão importa 34% do total de suas importações. Essa interdependência comercial entre as três maiores potências do mundo pode chegar a provocar efeitos na atividade econômica desses países e impactar o agronegócio da soja no Brasil, tendo em vista que atualmente a China é o maior importador da soja brasileira. O impacto foi sentido com a queda, em limites de baixa, experimentada pela soja na bolsa de Chicago nas últimas semanas.
Neste momento, os sojicultores do Centro-Oeste brasileiro estão se vendo às voltas com um período extremamente prolongado de chuvas em plena colheita, o que está retardando e comprometendo o rendimento das operações de colheita, transporte, recepção, armazenamento e, inclusive, exportação da soja brasileira. Tudo isso está acontecendo em meio a um período em que o preço da soja, em dólares, chega aos valores mais altos das últimas duas décadas. E antes que os produtores de soja brasileiros possam concluir as suas colheitas e efetuar a venda do seu saldo remanescente, ocorre essa catástrofe geoclimática sobre a terceira economia mundial.
O Japão é um país que produz somente arroz, trigo e batatas. Os demais produtos têm que ser importados em sua totalidade. Em termos de commodities, o Japão é o terceiro importador mundial de petróleo e o primeiro de milho. Daí o impacto que a crise está tendo nos preços dessas commodities nas bolsas mundiais. No caso dos grãos forrageiros, milho e sorgo, o Japão é o primeiro importador mundial, totalizando 20 milhões de toneladas. Sendo que destes, 16 milhões correspondem a milho. O principal país exportador de milho para o Japão são os Estados Unidos, por isso ocorreu a grande baixa que o milho experimentou no mercado de Chicago após as primeiras imagens do tsunami no Japão.
No caso da soja, o fenômeno ocorrido no Japão não deveria ter grande impacto sobre os preços da soja no mercado internacional, tendo em vista que o País importa somente 3,4 milhões de toneladas anuais. Entretanto, será sentido o efeito indireto decorrente da possível liberação de áreas destinadas ao milho na próxima safra da América do Norte, neste momento em que começa a ocorrer a definição do plano de safra nos Estados Unidos. Isso poderá impactar negativamente o preço da soja, mas não tanto quanto o mercado do milho, em que o efeito de eventual expectativa de queda da demanda japonesa será direto.
Tal comportamento realmente começou a ser detectado no mercado nas últimas semanas, em que se verificou que os preços do milho declinaram mais veementemente do que os preços da soja. Estes, após caírem em um primeiro momento, recuperaram terreno nos dias seguintes –ao mesmo tempo em que os preços do milho consolidaram queda. Apesar de ser muito prematuro projetar neste momento uma tendência a partir do ocorrido no Japão, pode-se ter como primeira conclusão o impacto que tem e terá sobre os preços do milho até que a crise seja superada, e a economia japonesa se normalize. Enquanto isso, o efeito nos preços da soja decorrerá do efeito especulativo indireto provocado pela expectativa de maior disponibilização de áreas de produção de milho para a produção soja nos Estados Unidos.
No último trimestre de 2010, quando os agricultores brasileiros plantavam a safra, além da expectativa dos efeitos do fenômeno La Niña sobre o clima, que provocaram atrasos no início das chuvas em várias regiões produtoras, todos os fatores estavam indicando alta de preços da soja. Entre estes: preço do petróleo estável; firme demanda por alimentos decorrentes do aumento de consumo na China e Índia; estoques mundiais baixos (trigo e milho principalmente); taxas de juros baixas; fundos em posição de compra de commodities agrícolas; seca na Rússia e inundações na Austrália.
Neste momento, quando os sojicultores brasileiros estão em plena fase de colheita, além das chuvas em volume e frequência acima da média, os sojicultores encontram o mercado com alguns fatores baixistas sobre os preços. Entre estes: a entrada da colheita de soja da América do Sul e consequente recomposição dos estoques globais de soja; uma maior produção de trigo na Argentina na próxima safra, que irá compensar a forte baixa na safra anterior; e, por último, deve-se verificar o fator Japão, que terá efeitos diretos sobre os mercados de milho e sobre a atividade econômica das principais potências mundiais, Estados Unidos e China. Esta última, a maior parceira comercial brasileira e maior importadora de soja do Brasil.
Após uma queda vertiginosa de 70 pontos no preço da soja na bolsa de Chicago em 15 de março de 2011, houve recuperação de 48 pontos no dia seguinte, indicando que, no caso da soja, o mercado interpreta que o aumento da demanda mundial de alimentos poderá arrefecer a queda de demanda que poderia ser desencadeada pela crise no Japão. Além disso, verificou-se que, na iminência do prolongamento dos efeitos do problema nuclear, a população japonesa aumentou o consumo para formar estoques domésticos, o que tem aumentado pontualmente as importações de milho norte-americano. Se isso perdurar, pode atuar o efeito da esperada liberação de áreas de milho para o plantio de soja. Com isso, o preço da soja pode continuar a tendência estável de preços experimentada deste o último trimestre de 2010.
Portanto, vários cenários são possíveis no mercado mundial de soja atualmente. E ainda não se sabe qual a velocidade e a duração que o impacto provocado pelo tsunami do Japão terá sobre os preços da soja e o quanto esse efeito poderá ser amenizado pela firme demanda que tem sido sustentada pelo aumento do consumo na China e na Índia. Nesse sentido, o produtor de soja brasileiro deve permanecer atento aos acontecimentos na bolsa de Chicago para planejar as vendas de seus eventuais saldos de colheita.
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