Digo infelizmente porque quem conhece produtores rurais sabe: não há nada que os façam fracassar, pelo menos no que depender deles e ao que se dedicam fazer. Se não sabem, aprendem. Se não têm, criam. Não dependem, apenas fazem. À todos os produtores de alho cabe aqui o meu admirável reconhecimento.
Caso as notícias sobre esta cultura dependessem somente dos produtores brasileiros certamente seriam as mais positivas e otimistas: investem em tecnologia, empregam mão de obra, preservam o meio ambiente, e ainda, fazem os números da economia alavancar. Assim, não teríamos que ficar repetidas vezes explanando o mesmo cenário devastador: perda de área, dispensa de mão de obra, gargalos de produção, dumping e subfaturamento.
Ao produtor brasileiro coube sua parte e nem foi preciso que alguém a determinasse. Ele sabe muito bem como produzir, colher, preservar e manter. O especialista na terra é o agricultor. Cabe agora dar espaço para ser reconhecido. Digo o produtor brasileiro.
Porque no caso do alho muita coisa se mistura e pouca coisa se esclarece. A maior parte da hortaliça exposta na gôndola do supermercado veio de fora. Isso mesmo: I-M-P-O-R-T-A-D-A. O Brasil, produtor de alimentos, importa alho.
Isso porque do outro lado do mundo alguém também plantou, colheu e comercializou. Em quais condições? Ah, isso não dá para saber ao certo. Se uma mercadoria chega aqui no Brasil, depois de passar por portos, viajar em navios, ser desembaraçada e comercializada a valor abaixo da produção nacional é sinal de que há algo de errado. Fica a pergunta: qual o preço que se paga por produtos com valores tão abaixo do que o habitual?
Não quero aqui fazer discurso do politicamente correto. Sei que na atual conjuntura seria difícil responder: quantos sabem que a maior parte do alho que consumimos vem da China? Que boa parte deste alho entra no país sem o efetivo pagamento das tarifas brasileiras? Que alguns importadores declaram valor abaixo do comercializado (=subfaturamento)? Que deixamos de criar postos de trabalho em solo nacional e bancamos empregos lá fora? Que estes empregos giram em torno de 56.000 criados na China e Argentina. Somos hermanos? Ou made in China? Qual o preço você está disposto a pagar?
Quero me explicar. Lutamos diariamente para dar respostas a esses questionamentos, porém não nos contentamos somente com a retórica. Vamos à luta. Damos essas respostas na medida em que nossos esforços são empreendidos no sentido de conferir legitimidade à nossa luta. Ou seja, no momento em que conseguirmos gradativamente retomar a produção nacional, também empregarmos mais mão de obra, ofertaremos mais produto nacional à mesa dos brasileiros, e você, com certeza, saberá apreciar um bom alho brasileiro. Desde que, por último e mais importante (haja vista que nossa parte está sendo feita), o governo se empenhe em proteger nossas fronteiras e credite valor a esses “brasileiros e brasileiras”. Porque caso contrário, cuidado.... o próximo rótulo do seu alimento poderá ser:
Alimento: (qualquer)
Tipo: (qualquer)
Origem: (qualquer)
Data de validade: (qualquer)
Você é um qualquer ? Que come um alimento qualquer ? Que investe em mão de obra qualquer ? Que paga impostos a um país qualquer ? Que gera emprego em um lugar qualquer ?
Exija mais respeito! Apóie nossa causa. Acompanhe nossa luta!
O STF (Supremo Tribunal Federal) decide em breve o futuro da cultura do alho no Brasil.
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