No dia 6 de dezembro passado, na sede da Sociedade Rural Brasileira, o COSAG ouviu dois reconhecidamente competentes e sérios analistas do setor: André Pessoa e Alexandre Mendonça de Barros, que avaliaram as perspectivas do agro para 2011.
Com base nos dados estatísticos conhecidos, ambos sinalizaram um ano positivo para a maioria das commodities agrícolas.
Baixos estoques globais em relação às médias históricas recentes e demanda aquecida são responsáveis por preços, em dólar, melhores que os do ano passado, e, adicionalmente, produzidos a um custo menor.
A safra da soja colhida em 2010 pelos Estados Unidos, maior produtor mundial, foi próxima a 92 milhões de toneladas, quase 3,5 milhões a menos do que as estimativas. Não é uma diferença grande para justificar os altos preços hoje praticados, mas os estoques americanos caíram; e a demanda chinesa pelo grão continuará crescendo.
Além disso, o La Niña coloca interrogação sobre o tamanho da safra no Hemisfério Sul (Argentina e Brasil), uma vez que se espera menos chuva na região.
Soma-se a tudo isso à especulação dos Fundos e está explicado o preço bom da soja.
Milho é um cereal cujo preço se relaciona com o da soja, uma vez que são os dois principais componentes de rações. A quebra da safra de trigo na Europa Central e na Austrália fez do milho uma alternativa a este grão. O resultado é redução nos estoques mundiais, fator também existente no caso do algodão.
A safra brasileira de café em 2011 deverá ser próxima de 46,5 milhões de sacas, contra 52 milhões de 2010. Os cafeicultores brasileiros, castigados durante longo período por preços irracionais, podem recuperar parte de suas perdas.
Também há estoques baixos de suco de laranja, e os preços deverão ficar bons no ano que vem. Este é outro setor no qual os agricultores vêm penando há muito tempo com preços até abaixo dos custos de produção.
A cana seguirá com bons preços: o mercado aquecido do açúcar pode continuar bom para o Brasil, até porque os americanos estão discutindo a proibição da produção de beterraba transgênica, o que deverá reduzir a produção de açúcar nos Estados Unidos.
E as carnes vivem um bom momento, com claros indicadores de patamares satisfatórios de preços em 2011.
Tudo isso aponta para um bom ano agrícola, o que é bastante positivo, especialmente porque está se instalando um novo governo, diante de uma expectativa de vigoroso crescimento da demanda mundial por alimentos, fibras e energia.
Mas algumas sombras ainda persistem.
A primeira é que estes preços bons acabarão elevando a demanda por insumos (fertilizantes e defensivos), provocando aumento do custo de produção. Os analistas não acreditam em uma nova onda igual à de 2008, quando os preços dos adubos explodiram, mas pedem atenção quanto aos custos de plantio em 2011, que podem afetar resultados em 2012.
Outro tema inquietante é o baixo valor do dólar frente a outras moedas, o que provoca migração dos especuladores para commodities em geral, inclusive agrícolas.
E por último, um sinal de alarme bem preocupante, determinado pela inconsistência das estatísticas agrícolas do Brasil.
A falta de segurança nos números conhecidos é assustadora. O caso do rebanho bovino é emblemático. Enquanto o censo agropecuário fala em pouco mais de 170 milhões de cabeças de gado, outras estimativas falam em mais de 210 milhões. São “só” 40 milhões de cabeças de diferença! O mesmo se dá com café, cana, etc.
É muito difícil estabelecer políticas adequadas de apoio à produção rural sem uma base sólida de dados estatísticos.
Há um velho problema aí: pelo menos 2 instituições fazem pesquisas com números agrícolas: a CONAB e o IBGE. Embora os resultados sejam sempre parecidos, nunca são iguais.
Já passou da hora de cuidar com seriedade desta questão essencial até para o funcionamento correto de mercados.
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