Os desastres ocorridos em 2008, na região do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina; em 2009, em Niterói, Rio de Janeiro, e, recentemente, no final de 2010, na região serrana do Rio de Janeiro, têm, todos, pelo menos uma relação entre si. Em todos os locais o fenômeno chamado EROSÃO DO SOLO esteve presente.
Numa visão ampla, pode-se dizer que houve um desequilíbrio do ciclo hidrológico provocado pela alteração de um ou de alguns de seus componentes. Pode ter sido apenas o desequilíbrio da própria água ou isso e mais algum componente relacionado, tais como o uso ou a cobertura do solo, a topografia ou as práticas de conservação do solo, individual ou coletivamente.
Numa visão mais restrita, tem relação íntima com a EROSÃO DO SOLO. A erosão como um fenômeno geológico, desgasta as rochas e os próprios solos moldando a crosta terrestre. Assim, ao longo de milhões de anos, no final das contas, áreas montanhosas podem ser transformadas em planaltos ou, até, em planícies e os solos podem ser parcial ou totalmente decapitados. Mas a EROSÃO GEOLÓGICA, pela ação do homem, pode ter a sua velocidade alterada, positivamente, transformando-se na EROSÃO ACELERADA, aquela que ocorre, com freqüência, nas áreas agrícolas e, também, nas áreas urbanas.
EROSÃO é sinônimo de degradação, deterioração, desgaste e, finalmente, perda de solo. Didática e matematicamente a erosão pode ser bem entendida através da EQUAÇÃO UNIVERSAL DE PERDAS DE SOLO, como:
E = R x K x LS x C x P onde:
E, é a erosão, o resultado da ação, da interação de todos os fatores que concorrem para a sua ocorrência. A erosão é provocada por um agente ativo, um agente erosivo (que causa erosão) que pode ser a água, o vento, as geleiras ou as ondas (mar, rios). O principal deles, para nossas condições, é a água, e da chuva. Por isso estudam-se as características da chuva como agente erosivo, o agente ativo que causa a erosão (quantidade – mm; intensidade – mm/h; e, freqüência). Ao conjunto das características da chuva, que lhe conferem poder erosivo, chama-se EROSIVIDADE DA CHUVA (ou seja, a capacidade que a chuva tem de causar erosão, cujo símbolo é R).
O solo, por sua vez, é o agente passivo, que sofre a ação do agente erosivo e, portanto, sofre a erosão. Conforme as características intrínsecas (químicas, físicas e mineralógicas), o solo reage de maneira diferenciada à ação da chuva. A isto chamamos de ERODIBILIDADE DO SOLO, a capacidade que o solo tem de resistir à erosão ou de ser erodido pelo agente ativo (agente erosivo).
Além destes dois fatores atuam mais três outros, os quais podem ser chamados de FATORES ATENUANTES (ou AGRAVANTES). O primeiro deles é a TOPOGRAFIA, que pode ser desmembrada em comprimento de rampa ou do lançante (L) e declividade do terreno (S). Em função da topografia, a erosão pode ser atenuada ou agravada. Quanto maior o comprimento do lançante maior a erosão; quanto maior o declive maior a erosão, e vice-versa para os dois casos. O segundo é o USO E COBERTURA DO SOLO. Quanto mais protegido estiver o solo, em função do uso e da cobertura por vegetais, menor a erosão. Ao contrário, menor proteção, maior a erosão. Vários estudos mostram que só a cobertura do solo pode ser responsável por, até, 95% do controle da erosão. Assim sendo, desmatamento significa aumento do risco de erosão; revolvimento, preparo do solo, arado e grade, representam aumento do risco de erosão. O terceiro fator é composto pelas PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO, ou seja, todas as ações sejam elas mecânicas, vegetativas ou edáficas realizadas pelo homem, com o objetivo de minimizar ou, até, inibir a ocorrência da erosão.
Embora ocorrendo tanto no campo quanto nas cidades, a erosão tem sido muito mais estudada nos solos agrícolas com o objetivo de conservar os solos produtivos ao longo do tempo ou, então, para recuperar àqueles já degradados pelo uso e manejo inadequados, do que no ambiente urbano. Durante décadas, técnicos especializados no assunto procuraram mostrar os prejuízos da erosão e desenvolveram dezenas de práticas capazes de minimizar as conseqüências da erosão no campo. Atualmente, inúmeras práticas, conjunto de práticas, metodologias e tecnologias estão disponíveis para serem imediatamente colocadas em prática visando o eficiente controle da erosão.
Lamentavelmente a mídia, historicamente, tem mostrado a erosão somente nas áreas rurais, levando a opinião pública crer que só lá é que existe tal fenômeno. E, como a maioria dos cidadãos concentra-se na cidade, parece que o problema fica bem longe de todos. Os problemas “lá do campo” sensibilizam o grande público quando mostrados na mídia, mas são imediatamente esquecidos logo após o “desligar” da televisão ou o destino do jornal para o lixo reciclável. Parece que “aquilo lá do campo” não pode provocar alguma conseqüência aqui na cidade – ledo engano ... grande engano. Direta ou indiretamente, muitas das conseqüências da erosão ocorrida lá na lavoura acabam por afetar a vida nas cidades. Lamentavelmente, em geral, o cidadão menos favorecido ou menos esclarecido é o que mais sofre com estas conseqüências.
Mas, nas cidades a EROSÃO também se faz presente, e muito mais do que se pensa. Não em raras oportunidades podem ser vistas em terrenos baldios dezenas de valetas, feito “veias abertas” que deslocam centenas de quilos de solo e litros de água, na forma de enxurrada, para as vias públicas promovendo um “barral” ou “lamaçal” em local de uso público ou invadindo terrenos em posição topográfica mais baixa, ou entrando pelo bueiro provocando o seu entupimento ou, finalmente, até chegar às partes mais baixas do lançante, provocando inundação ou alagamento de imóveis alheios e o assoreamento de córregos, sangas ou rios. Não raro, também, é ver encostas solapando, deslizando morro abaixo, em taludes de estradas mal construídas, em taludes de áreas urbanas indevidamente tratadas pelos gestores públicos municipais; não raro é ver valetas abertas nas próprias vias públicas não pavimentadas causando sérios transtornos, em geral, para os cidadãos que vivem nas periferias dos centros urbanos.
Mas o pior de tudo isto é a solução encontrada por muitos dos gestores públicos: asfaltar todas as
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