O termo “sustentabilidade” está em voga na mídia, sendo indiscriminadamente usado para qualquer assunto ou área de conhecimento. Nas palavras de políticos e de outras personalidades se encontra, a já referida expressão, passando a idéia de que certas ações ou atividades sejam “sustentáveis”, ou seja, não afetam o meio ambiente . Pois bem, esta é apenas uma ótica sobre o assunto e talvez a mais falha delas, já que qualquer atividade antropológica atual não é a princípio sustentável, principalmente se levarmos em conta as outras esferas envolvidas neste conceito, como a sustentabilidade social, econômica, cultural e a já mencionada sustentabilidade ambiental.
Na piscicultura, bem como outras atividades agropecuárias, ocorrem distorções quanto ao assunto, pois normalmente enfocamos os conceitos que achamos serem mais facilmente mensuráveis, como os aspectos econômicos e sociais. Em uma atividade aquícola mais intensiva e com maior produtividade, os indicadores econômicos, como uso da terra, custos e receitas, são mais favoráveis, assim como alguns indicadores sociais como geração de empregos, remuneração. Ambientalmente, no entanto, sabe-se que o processo de eutrofização da água é maior, e pouca informação é obtida sobre o impacto ambiental destas atividades nas populações nativas e a dependência do uso de rações industrializadas leva a outra questão, a das externalidades que não são consideradas nas análises econômicas.
Para entender o que são externalidades, vamos lembrar que a ração é baseada em soja, grãos como o milho e trigo e fontes de proteína animal, principalmente a farinha de peixe. Assim é de se esperar que com o aumento da produção aquícola, a demanda destes ingredientes aumente também. Consequentemente para atender esta demanda tem-se que intensificar e/ou aumentar a área de produção de grãos ou a pressão de pesca para a produção da farinha de pescado a ser utilizada nas rações. A que preço? Expandindo-se para áreas de cerrado, floresta, utilizando mais agroquímicos, mais água para irrigação e, em algumas situações, aumentando também o risco aos trabalhadores e à população envolvida. Estes dados dificilmente são computados e levados em consideração no sistema de produção.
Outras variáveis e análises como a emergética (com m) levam em conta a energia envolvida nestas atividades, tanto as que entram (consumo de combustíveis e energia elétrica) quanto as que são produzidas (calor gerado, desperdício e o próprio produto gerado). A análise emergética tende a ser muito mais detalhada, considerando inclusive a energia utilizada na fabricação de rações, utensílios, maquinário e outros processos relacionados à produção, nem sempre explícitos como o simples consumo de energia elétrica por parte de um aerador, por exemplo.
O fator cultural quase sempre é esquecido, embora tenha importância decisiva sobre o sucesso de um empreendimento. Por exemplo: um ribeirinho, que culturalmente depende da pesca, passa a criar peixes (exóticos, muitas vezes) em um sistema intensivo, como tanques-redes, totalmente dependente de ração porque o rio fora represado e se transformou em um grande reservatório. Considerando apenas uma melhor “sustentabilidade social e econômica”, como algumas correntes têm propagado, este indivíduo encontrará dificuldades em manter-se nesta atividade. Estas iniciativas fatalmente serão fadadas ao fracasso, por não respeitar a herança cultural de uma população, neste caso os pescadores e ribeirinhos, com a escolha de uma espécie exótica e um sistema intensivo, ao invés de adotar espécies que lhes sejam familiares, sendo cultivadas em um sistema mais extensivo ou semi-intensivo, como em cercados, o que resultará num envolvimento maior com a atividade e garantirá sua continuidade.
Em suma, a criação de peixes seguindo-se os conceitos de sustentabilidade (ambiental, econômica, social e cultural) é a melhor solução para o desenvolvimento da atividade. A adoção destas ações garantirá o sucesso do empreendimento assim como a perpetuação do negócio.
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