Uma revolução silenciosa movimenta o valioso mercado sucroenergético. Fusões, aquisições e parcerias tecnológicas entre os principais players dão o tom de uma mudança profunda pela qual o setor está passando. Essa evolução segue o ritmo pujante do mercado da cana que, nos últimos anos, se tornou a principal matéria-prima para produção de biocombustíveis ou bioeletricidade.
O reconhecimento global do etanol como energia limpa foi resultado principalmente do esforço mundial pela redução dos gases de efeito estufa, que causam o aquecimento do planeta. Desde que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) classificou o etanol de cana-de-açúcar como "biocombustível avançado", capaz de reduzir em 61% a emissão de gases de efeito estufa em relação à gasolina, a demanda por cana vem aumentando de forma acelerada.
Em paralelo à posição da EPA, o etanol deixou de ser uma opção energética exclusiva do Brasil e passou a ser adotado em mais de 30 países. Essa demanda crescente impõe aos produtores dois desafios urgentes: o aumento de produtividade e a necessidade de redução do impacto dessa cultura no meio ambiente.
A necessidade de racionalização das operações e custos está exigindo modificações de paradigmas seculares, como por exemplo, as técnicas de plantio da cana. A reação do mercado, no entanto, tem sido rápida e boas notícias surgiram nos últimos tempos. A Usina Guaíra, por exemplo, foi a primeira a anunciar a adoção da nova tecnologia Plene. Desenvolvida pela Syngenta, ela atende tanto a demanda pelo aumento de produção, quanto à necessidade de redução do impacto ambiental do plantio.
A maneira como se planta cana passou por pouquíssimas mudanças desde que começou a ser cultivada há centenas de anos e Plene irá promover uma revolução no setor. A tecnologia permite que a semeadura passe a ser feita com toletes de quatro centímetros que são tratadas, substituindo as canas convencionais de 40 centímetros.
As usinas que aderirem à tecnologia se beneficiarão do retorno de investimento na produção que Plene traz. Outro diferencial dessa tecnologia é a possibilidade de fazer o Plantio Direto, uma técnica que aproveita a cobertura vegetal para evitar a compactação do solo, erosão e permitir a absorção do teor orgânico da palha.
O Plene é uma das novidades que está sendo apresentada para otimizar a produção canavieira. A Syngenta está envolvida em cerca de 40 projetos de pesquisa em cana que buscam aumento de performance, controle de insetos e ervas daninhas. Outra linha de pesquisa é a busca por aumento da concentração de açúcares na cultura – área na qual a Syngenta fechou uma parceria com a australiana CSR Sugar. Essa tecnologia permitirá que numa mesma área cultivada, a produção resulte numa cana com mais ATR (açúcar total recuperável).
Além de estudos para criação da cana resistente aos diferentes estresses, sejam eles bióticos (pragas e doenças) ou abióticos (seca, temperatura, salinidade, acidez do solo), as pesquisas asseguram também que a cana fixe nitrogênio do ar e aumente a sua competitividade no novo ambiente mercadológico.
Segundo levantamento do Instituto de Eletrotécnica e Energia, da Universidade de São Paulo, a produção média de 80t/há, no estado de São Paulo, tem potencial para atingir a média de 160t/há, a medida que as novas tecnologias vão sendo implementadas. Nos próximos 20 anos, a cana enfrentará o desafio de atender uma demanda com crescimento exponencial. Para isso, a indústria do agronegócio está desenvolvendo novas variedades, fórmulas de fertilização diferentes e manejo da água para irrigação.
Em paralelo a adoção de novas tecnologias, cresce também a adesão às práticas agrícolas sustentáveis. A colheita mecanizada, que, em cumprimento à lei, será utilizada em todos os canaviais do país até 2014, já responde por 55% no estado de São Paulo, e o uso de equipamentos mais leves serão a marca das próximas décadas, significando diversas alterações nas variedades e no conjunto de tratos culturais do sistema de produção.
A possibilidade de usar a palha para produção do etanol de segunda geração aumenta ainda mais o valor da cana como matéria-prima. A palha da cana, que era tradicionalmente perdida pela incineração antes da colheita, hoje pode ser reaproveitada pelas usinas na geração de bioeletricidade. Essa mudança sinaliza o empenho dos grupos sucroenergéticos para adequarem a cultura aos novos tempos. Essa energia é suficiente para manter as usinas auto-sustentáveis e, em alguns casos, permite ainda a comercialização do excedente para abastecimento de redes elétricas.
A cana é referência global como matéria-prima na produção de solução energética eficiente e renovável, além de ter um papel fundamental no desafio de superar o aquecimento global. O Brasil é hoje o maior exportador de cana e responsável por 30% da produção mundial. Nesse ambiente, a história da mudança da matriz energética mundial está sendo construída aqui e o Brasil lidera com orgulho esse futuro.
Marco Bochi – Diretor de Novas Tecnologias de Cana da Syngenta.
marco.bochi@syngenta.com