Nos últimos dois meses, o mercado do milho vivenciou uma mudança expressiva em suas expectativas conjunturais, tanto ao nível Brasil quanto ao nível mundial. Uma série de notícias encadeadas acarretou em uma nova dinâmica para os preços do grão.
Do ponto de vista global, o mercado começou a dar sinais de mudanças a partir das notícias de quebra de safra de trigo na Europa, com destaque para a Rússia, a qual deverá registrar na safra 2010/11 uma redução de cerca de 45% de sua produção em relação ao ano agrícola 2009/10.
Como o trigo é a base da alimentação animal na Europa, os países que compõem este bloco se viram obrigados a importar o milho como alternativa a substituição do trigo. Este movimento deixou o mercado em ritmo fervoroso, gerando novas expectativas aos países exportadores.
Nos Estados Unidos, a queda de produtividade em relação as previsões iniciais também ajudaram a valorizar os preços futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção norte-americana do cereal antes estimada em 334,3 milhões de toneladas na safra 2010/11 foi revisada para 321,7 milhões de toneladas.
Para dar um tom ainda mais otimista ao mercado, a China se desponta novamente como importadora de milho no ano agrícola 2010/11. Estimativas do USDA apontam para uma necessidade de importação de cerca de 1,0 milhão de toneladas. Porém, dados extra-oficiais do mercado,indicam que esta necessidade poderá ser bem maior do que o volume estimado atualmente.
Em virtude destes acontecimentos, o preço do primeiro vencimento do milho futuro negociado na Bolsa de Chicago registrou uma valorização de 56% nos últimos três meses, rompendo a barreira dos US$ 5,0 por bushel.
FALTA IMAGEM GRÁFICO
Fonte: CBOT
É importante ressaltar que a relação estoque/consumo (indicador que mede o percentual da demanda que pode ser atendida pelos estoques de passagem) global de milho encontra-se bem abaixo de sua média histórica, o que indica um forte crescimento de demanda, já que a produção mundial mostra-se crescente.
No Brasil, as condições mercadológicas também se tornaram mais animadoras. Os leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) promovidos pelo governo tiveram pleno sucesso, alcançando um volume de escoamento de 11,0 milhões de toneladas. O resultado imediato destes leilões pôde ser visualizado através das exportações de milho, que atingiram 1,2 milhão de toneladas em agosto e 1,9 milhão de toneladas em setembro.
Além da recuperação das vendas externas de milho, o consumo doméstico do cereal também apresenta elevações. A produção de carne de frango cresceu quase 13% no primeiro semestre de 2010 e o resultado das exportações de carnes também indica crescimento expressivo.
Diante de tais fatores, o mercado do milho também visualizou valorização de preços em todas as regiões pesquisadas. Nos últimos dois meses, os preços do milho registraram valorização de cerca de 23% no Paraná, 17% no Rio Grande do Sul e 20% em Goiás.
A elevação dos preços do milho no mercado doméstico ocorreu, no entanto, em um período onde a decisão de investimento na área de verão já havia sido tomada. Mais uma vez, o cenário esperado para a próxima safra é a de redução na área cultivada com o milho. Estima-se que na safra 2010/11, o recuo na área semeada será de cerca de 6,0%, totalizando apenas 7,6 milhões de hectares, ou seja, a menor área cultivada com o cereal desde a existência de dados estatísticos.
O recuo na área cultivada com grão trará, no entanto, oportunidades para o próximo ano. A redução na produção, a expectativa de problemas climáticos na região Sul em função do fenômeno La Niña e a pressão das exportações neste último trimestre de 2010 deverão configurar um quadro interessante de preços e comercialização já no primeiro semestre do próximo ano. Historicamente, quando o ano se encerra com preços dos grãos em patamares elevados, há uma tendência muito forte de que os preços iniciem o ano posterior também em níveis elevados.
Para alavancar as possibilidades de ganho, o investimento em tecnologia é peça fundamental para a estratégia de investimento na safrinha 2011. Para entender melhor esta lógica, basta comparar a expectativa de margem operacional bruta entre dois níveis de produtividade. Considerando um preço médio de R$ 18,00/saca no Sudoeste do Paraná, um produtor que alcançar 85 sacas por hectare obterá uma margem operacional de R$ 360,47/hectare. Já um produtor de 125 sacas por hectare, terá como resultado financeiro uma margem de R$ 1.002,25/hectare, o que representa um aumento de 178% em relação ao primeiro caso.
A estratégia de se buscar uma trava de preços para a safrinha em 2011 também deve ser analisada. O contrato setembro/2011 negociado na BM&F encerrou o pregão do dia 11 de outubro de 2010 negociado a R$ 25,00/saca, preço este que se mostra atrativo frente aos atuais custos de produção da safrinha. A análise do basis (diferença entre o preço futuro e o preço do mercado físico local) deve se estudada para o delineamento das decisões de venda.
As condições do mercado estão lançadas para o próximo ano. Resta ao produtor adotar as melhores decisões de investimento e buscar as ferramentas de comercialização que possam mitigar o risco de preços e consequentemente elevar a rentabilidade de sua atividade.
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