A recente evolução do setor sucroenergético, com a chegada ao Brasil de grandes empresas de fora investindo pesado na produção da agroenergia, vem mudando significativamente o cenário futuro de médio e longo prazo. A atividade sucroalcooleira foi, por séculos, de capital eminentemente nacional. De repente, em pouco mais de três anos, já temos 22% de capital estrangeiro nela investidos, podendo chegar a 37% até 2015. Gigantes como Dreyfus, Bunge, Cargill, ADM, Tereos, Abengoa, Amyris e Renuka, entre outras, se juntaram a esta nova onda em que entraram também fundos de investimento de diversas nacionalidades e empresas brasileiras, como a Odebrecht (através da ETH), além de importantes petrolíferas, como a Shell (associada à Cosan), a BP, a Total e a própria Petrobras (também associada à Mitsui).
Tamanha internacionalização é acompanhada por forte consolidação interna, com grupos nacionais crescentemente poderosos comprando outros e diminuindo o número de atores neste palco importantíssimo do nosso agronegócio.
Este novo ambiente indica que as multinacionais estão enxergando algo além do novo mercado interno, talvez um mercado global. Mas, além disso, tem um outro tema, o da tecnologia.
Junto com as empresas que investiram na produção do etanol ou do diesel a partir da garapa, ou mesmo da novel alcoolquímica como sucedânea da petroquímica, chegam também as grandes instituições privadas de desenvolvimento tecnológico. Já vieram a Monsanto (que comprou a Canavialis, do Grupo Votorantim), a Basf (aliada ao CTC – Centro de Tecnologia de Cana-de-açúcar, em Piracicaba), a Syngenta, a Amyris e outras mais.
As novas perspectivas da sucroenergia indicarão as futuras rotas tecnológicas, entre as quais estão o desenvolvimento de variedades de cana mais ricas em açúcares não cristalizáveis que também se transformem em etanol; a necessidade de mais fibras no colmo para a cogeração de eletricidade; o uso das folhas para o mesmo fim; variedades mais eretas para otimizarem a mecanização do corte; variedades resistentes à seca, a pragas e a doenças; que sejam capazes de fixar nitrogênio ao solo como a soja já faz através de inoculação de bactérias específicas; que melhor absorvam os nutrientes (unindo transgenia e nanotecnologia); e os avanços espetaculares da alcoolquímica.
Também há muita pesquisa na área da mecanização do corte, da estocagem e do transporte de etanol, temas em que as margens podem crescer muito para os atores econômicos.
Em suma, uma verdadeira revolução tecnológica está em andamento no setor, e isso é bom, especialmente para que o Brasil continue liderando o modelo mundial da agroenergia e possa levá-lo a outros países tropicais da América Latina, da África e da Ásia.
Como ficam nossas empresas nacionais de desenvolvimento tecnológico confrontadas com estes monumentais investimentos de suas concorrentes de fora? Os resultados por elas já alcançados aqui são formidáveis.
Nos últimos anos, o IAC lançou três novas variedades que podem aumentar em 30% a produtividade da cana.
A Ridesa, rede de universidades lideradas pela UFSCar, que substituiu o Planalsucar extinto no Plano Collor, anunciou em outubro passado novas variedades com igual potencial de crescimento. Aliás, 58% de toda a cana plantada no Brasil vêm desta organização primorosa.
O CTC lançou, de 2005 até hoje, cerca de 20 variedades promissoras, misturando e combinando variedade/solo/clima.
A Embrapa, com seu novo Centro de Agroenergia, está focada na sustentabilidade da produção da gramínea.
A Petrobras está também se lançando na pesquisa de cana e tem recursos e competência para avançar bastante, e rapidamente.
Portanto, há um certo congestionamento positivo no setor. Talvez fosse muito interessante uma grande coordenação entre estas instituições brasileiras, todas, para evitar duplicidade de recursos e dispersão de esforços e para que elas tenham capacidade de sustentar-se frente à avassaladora concorrência que virá, sem dúvida, com os novos agentes internacionais em desenvolvimento de tecnologia.
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