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Podemos afirmar que o produtor rural brasileiro já carrega em si todos os significados positivos que a palavra tendência pode expressar. Segundo o dicionário, tendência é uma disposição natural e instintiva; propensão, inclinação, uma forma espontânea da atividade. O termo expressa, portanto, o ânimo de quem se dedica diariamente ao preparo e cultivo da terra, ao cuidado com as mudas, à preocupação com o consumo de bens agrícolas de boa qualidade. Cada uma dessas pessoas que assim se anima participa de um grande grupo que dá crédito ao desenvolvimento agrícola. 

Mas a tendência de mercado às vezes se configura de uma maneira menos poética. Com o produtor de alho brasileiro não seria diferente. Mesmo porque a história está aí para ser dita, repetida, repensada e criticada. Aos produtores cabe um olhar retrospectivo.  Vinte anos de jornada pode levar à constatação de que atualmente há uma estrutura de apoio formada, uma grande diversidade de conhecimentos constituída e muita força de vontade individual e coletiva sendo revelada. Porém, é preciso lutar pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido, por mais oportunidades de inserção no mercado produtivo e por maior rentabilidade nos esforços empreendidos.  Isso ainda não foi alcançado.

Um paradoxo? Talvez sim. A verdade tem se mostrado de maneira antagônica por meio de dados estatísticos. Observemos o que nos dizem algumas informações acerca da produção de alho no Brasil. Se aceitarmos a afirmação de que “os números não mentem”, como normalmente se escuta, então dados podem nos auxiliar na leitura dos fatos. 

Vejamos os dados de um ano que ainda não se acabou em um país que consome anualmente, em média, 24 milhões de caixas de alho. No Brasil, ao final do ano de 2010, a tendência de oferta de alho para abastecimento do mercado interno é a seguinte:

46% do alho oriundo da China
24% do alho oriundo da Argentina
11% do alho oriundo da região Sul do Brasil
18% do alho oriundo do Cerrado Brasileiro

Para um país que já plantou 90% do alho consumido em território nacional, ficar nas últimas posições das tendências não é lá tão vantajoso assim. E, além disso, esta colocação se contrapõe aos avanços científicos e aos esforços empreendedores já citados.

Detalhemos melhor o assunto. O número de importações de caixas de alho cresce. Ao produtor brasileiro resta a esperança de retomar gradativamente o mercado e progressivamente aumentar sua produção. Contudo, a tarefa torna-se mais difícil frente aos dados numéricos que se revelam desafiadores. Continuemos.

Em 1999 o Brasil importava, em média, 600 mil caixas de alho por mês. Em 2010, esse número já chega à média de 1,340 milhões de caixas por mês. A previsão agora é de que 16 milhões de caixas, ou seja, 160 milhões de toneladas adentrem as fronteiras brasileiras. Um cálculo que mostra uma entrada crescente, já que em 2009 15 milhões de caixas foram importadas.

Para o Brasil também ficam números crescentes: 8 milhões de caixas de alho verde - amarelas.  Ainda assim, trata-se de um número pequeno em relação à produção externa aqui consumida. Ou seja, a tendência ao crescimento da produção interna não resta dúvidas. Entretanto, a luta pela retomada de posições superlativas anteriores deve ser uma meta. 

Afinal, a certeza de que o alho nacional possui um valor nutritivo maior que os demais, a garantia de que o alho brasileiro é produzido segundo as normas técnicas e ambientais exigidas e a segurança de que a água para irrigação é de boa qualidade demonstra a seriedade dos produtores. E existe, ainda, o sentimento de orgulho e dignidade consequentes do fato de que a mão de obra brasileira tem seus direitos garantidos. Este dado, ainda que menos evidente de forma numérica nas pesquisas estatísticas, eleva o patamar ético do esforço empreendido pelos produtores nacionais. A cultura brasileira do alho empenha-se em cumprir seu papel no desenvolvimento sócio-econômico nacional empregando 10 pessoas por hectare plantado. Há que se reconhecer e brindar o fato. 

Portanto, o desafio permanece: conciliar a tendência com a realidade. O que se impõe ao produtor nacional é buscar incessantemente a retomada daquilo que um dia já foi seu. Recolocar-se. Redefinir-se. Ser reconhecido.  
 

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ADERLAN
23/11/2010 - 18:51
Salve!

Os n·meros impressionam, principalmente quanto Ó necessidade de mÒo de obra, principal dificuldade dos produtores nacionais. O Eng. Rafael teria alguma anßlise sobre como competir neste quesito, reduzindo a demanda por mÒo de obra ou barateando-a?
TambÚm nos interessa saber a quantas anda o mercado de alho orgÔnico no Brasil, existem dados disponÝveis?
ParabÚns pelo texto.

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