Desde o início do ano se anunciava que outubro seria um mês pressionado para o mercado do boi gordo. Em tese, o volume de confinamentos, assim como a concentração dos contatos a termo, favoreceria a evolução das escalas dos frigoríficos, que poderiam pagar menos pela arroba do boi.
No entanto, na prática, não foi isso que se observou. Faltou boi, as escalas se apertaram, o mercado de carnes fluiu bem e os preços do boi “estouraram”.
Entre o primeiro e último dia útil do mês de outubro, o Cepea (Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Aplicada) registrou alta de 20,88% nos preços, o que equivale a R$19,43/@. No mês foram recordes de alta atrás de recordes.
Observe, na figura 1 (clique na imagem para ampliar), a evolução dos preços no mercado de São Paulo, segundo o Cepea.
Apenas nos últimos dias de outubro e primeiro de novembro, a alta do boi pareceu perder força, por enquanto.
Muitos produtores e técnicos começaram a discutir sobre o que fazer em momentos de alta do boi. Espera para vender, fecha mais animais no confinamento, realiza a troca, enfim, qual a melhor estratégia?
Bom, inicialmente, é sempre prudente ir vendendo animais prontos à medida que os preços estejam subindo. Se o mercado está reagindo, a venda parcelada de animais possibilita ir aumentando a média de venda, ao passo que o produtor foge dos riscos de tentar acertar na mosca.
Vale ressaltar que essa dúvida era válida no início do mês de outubro. A partir da segunda quinzena, o preço passou a reagir confirmando a tão esperada alta no mercado. Em outras palavras, o preço já subiu, e muito. Por isso, mesmo que suba mais, é preciso lembrar que vender bois a preços R$15/@ acima do que se esperava representa uma situação poucas vezes vista no mercado.
Para o comprador, a relação de troca também melhorou consideravelmente ao longo de outubro. Enquanto a arroba do boi subiu os 20,88% já comentados, os preços da reposição aumentaram entre 2,5% a 3% para as categorias mais leves e 5% para as categorias mais pesadas.
Na média das principais praças pecuárias, segundo a Scot Consultoria, o preço boi magro aumentou 6,5% ao longo de outubro.
Há pressão pelo lado dos criadores na busca de melhorar as cotações de seus animais, mas as condições das pastagens não os favorecem. Os compradores, sabedores das dificuldades dos produtores de bezerros, usam as condições de pastos e a própria condição dos animais em seu favor, mantendo a cotação da reposição “travada” enquanto o mercado dos animais terminados dispara.
Quando analisam friamente, os criadores sabem que precisam entregar os animais para não comprometer a safra seguinte. Por isso, para quem tem o boi para vender, o momento é extremamente favorável.
O momento favorável, no entanto, é para poucos, pois os preços subiram como subiram justamente pela falta de bois prontos para abate.
Muitos produtores fecharam animais a partir da segunda quinzena de outubro. Outros planejam fechar agora em novembro, na tentativa de adiantar boiadas para pegar preços ainda elevados.
Essa estratégia de confinar boi a para morrer em dezembro ou janeiro é possível e viável, mas não deixa de ser arriscada. E se é arriscado, algumas medidas precisam ser previamente adotadas.
Primeiro é preciso ver as condições dos animais e da estrutura para o confinamento. É interessante que os animais confinados cheguem antes dos animais de pasto e, por isso, precisam permanecer apenas entre 60 e 80 dias no cocho. Quanto mais tarde fechar o confinamento, menor o tempo de cocho para os animais.
Por isso, tais confinamentos não podem iniciar com animais leves. A categoria ideal para confinar seria aquela perto das 15 arrobas, que seriam as primeiras a serem abatidas a pasto.
O ganho de peso também tende a ser comprometido pelo período. É certo que o confinamento será conduzido com muito barro, pois o período é de chuvas. Por um lado há o aumento do custo operacional para a limpeza de currais, mas por outro há a redução dos custos fixos por usar uma estrutura que estaria ociosa nessa época.
No mínimo, o confinamento precisa ser calçado na base do cocho para evitar perdas acima do previsto com o desempenho dos animais.
O custo da dieta também aumentou. De meados do ano até o início de novembro, o custo da dieta de confinamento subiu entre 18% e 22%, dependendo da formulação e de opções de volumosos. Dietas sem volumosos tiveram incremento de custos entre 30% e 35%.
Por isso é preciso também avaliar a capacidade técnica da empresa em fechar animais para uma nova rodada fora de época mais propícia ao confinamento.
Nesse momento, fazer loucura em busca de preços tende a proporcionar maus resultados.
Segundo estimativas da Bigma Consultoria, o custo da arroba engordada a partir de bois fechados entre outubro e novembro está em torno de R$78,20/@ para animais inteiros a R$87,50/@ (animais castrados). A estimativa foi realizada com base nos resultados dos confinamentos deste ano, nos aumentos dos custos das dietas e nas dificuldades de desempenho técnico no confinamento sob chuva.
Portanto, nos atuais preços, fechar bois ainda seria lucrativo desde que todas as condições relatadas fossem respeitadas.
O risco maior fica em torno do comportamento do preço para os próximos meses. Porém, há possibilidade de gerenciar este risco através de hedge ou mercado de opções na BM&F/Bovespa. Veja na figura 2 a evolução do indicador Esalq/BM&F/Bovespa em 2010 e os valores contratados no mercado futuro fechado em 1 de novembro de 2010.
Para os produtores que desejem adiantar os animais via confinamento, é interessante que, ao menos, garantam remuneração acima dos R$100,00/@, usando ferramentas de proteção da BM&F/Bovespa. Não há dúvidas que as contas serão positivas com os preços nos atuais patamares.
Mais interessante ainda é avaliar a própria fazenda e a possibilidade de aproveitar os espaços abertos com o confinamento, em termos de lotação. Se o empresário não for hábil em aumentar o giro da empre
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