Em meio a toda preocupação dos produtores, e mesmo da saúde pública, sobre o menor consumo de feijão, o cenário catastrófico que já vinha sendo previstos pelos melhores profissionais da área está se confirmando. Seca no nordeste e no interior de São Paulo e chuva no sertão da Bahia, somados a produtores que foram desestimulados pelo governo no início do ano, resultam em uma campanha forte contra o precioso alimento.
O preço alto afugentará ainda mais o consumidor quando novamente ultrapassar os R$6 por quilo. Dependendo de quanto tempo leve este fenômeno de alta extrema, alguns consumidores que se alimentam diariamente de feijão, o farão com menos frequência e, quando houver novamente oferta, o consumirão menos vezes por semana. Os técnicos dão de ombros e apontam para o céu – a culpa é do clima. Mas sabem que são responsáveis (em boa parte por omissão) por serem lentos em tomar decisões importantes e estratégicas. Há quatro anos, na Câmara Setorial, o Ibrafe tem insistido que precisamos ter feijões diferentes, que o brasileiro aprecie e que tenha produção e consumo em outros países. Assim quando sobrar aqui o produtor não fica com um “mico” chamado feijão carioca na mão e o governo não precisa carregar um produto que deixa de ser atraente, tanto quanto uma alface - que perde atrativos em poucos dias.
Os estudiosos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) ouviram e estão buscando soluções, adaptando variedades ao clima brasileiro. Mas aqueles que precisam bater o martelo e dizer: “isto passa a ser política de Estado”, postergam. Aguardam que algo mais evidente ocorra e os convença. Que legado deixarão? O de bons diagnosticadores? Talvez nem isto.
A mais óbvia das solicitações, como utilizar leilão de prêmio dando oportunidade a quem tem interesse de buscar abrigar-se sob a proteção de um preço mínimo, é aplaudida nas reuniões, porém, não é levada implementada na prática. A vida dos brasileiros está em jogo.
Não se trata somente de retórica do “mercado”, se trata, também, de obesos, hipertensos e cardiopatas pendurados na saúde pública deixando de produzir e morrendo cedo. Ficamos preocupados com tragédias repentinas na mídia e nos calamos diante da tragédia silenciosa e não menos rápida que ceifa vidas mesmo com o campo produzindo pratos baratos e tradicionais como feijão, arroz, carne e salada. Simples como tudo que é verdadeiro. Durante o II Fórum Brasileiro de Comercialização do feijão nos, dias 26 e 27 de Novembro, em Castro, mais uma vez o Ibrafe buscará colocar em torno de uma mesa vários atores que podem mudar este quadro.
Se o orçamento do Ministério da Saúde para campanhas de mídia de todas as doenças é menor do que a Ambev para a cerveja, menos dinheiro nas meias e cuecas e mais Policia Federal podem ajudar. Se, realmente, os Ministérios da Agricultura, Combate à Fome, Saúde e Desenvolvimento Agrário quiserem, podem mudar esta situação. Se não, peçam socorro a iniciativa privada, mas que se faça alguma coisa. É necessário partir para a ação.
Com o nível educacional medíocre que os governos propositalmente mantêm nos currais de eleitores a consciência do que é realmente bom para saúde terá que ser apresentada em forma de bê-á-bá – tipo caldinho de feijão na boca do cidadão – para que entendam que fast-food que dá brinquedinho, mata.
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