Nesta entressafra ou período da seca que estamos atravessando, especialmente no Centro Oeste, diariamente temos nos deparado com notícias sobre as queimadas, que estão assolando os campos, principalmente as áreas de pastagens, de reservas ecológicas e indígenas, de parques nacionais e de agricultura.
Mesmo sem querer discutir a origem do fogo, que geralmente tem fundo cultural, fica difícil ignorar que seu foco inicial normalmente surge nas áreas de domínio das rodovias, cuja manutenção está a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), pela ação irresponsável de andarilhos que acendem fogo para se aquecerem nas madrugadas frias ou de motoristas que jogam suas bitucas de cigarro às margens da estrada; nas áreas dos assentamentos do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), cujos agricultores tradicionalmente utilizam o fogo para preparo das áreas para cultivo; nas áreas das reservas indígenas, onde historicamente os índios fazem uso do fogo para caçarem animais silvestres; e por último nas áreas de alguns pecuaristas de baixa tecnologia, que utilizam o fogo para limpar suas pastagens e provocar a rebrota do capim.
Infelizmente o fogo é um inimigo cruel dos produtores rurais que utilizam o Plantio Direto e a Integração Lavoura-Pecuária, onde o solo fica coberto com resíduos vegetais, com palhada, ou com forrageiras, as quais se encontram secas neste período, constituindo-se num material extremamente suscetível a combustão, onde o fogo pode se alastrar rapidamente, causando um estrago sem medidas.
O fogo, em poucos minutos, pode destruir toda a proteção do solo, matar plantas e os animais silvestres que habitam os campos, causar a morte de animais domésticos e até mesmo de seres humanos com ocorreu este ano.
Para enfrentar esse inimigo perigoso é necessário estabelecer uma cruzada nacional com campanhas maciças de prevenção na mídia (rádio, TV, jornais, revistas e internet) nas escolas de nível fundamental, médio e superior, nas associações, nas igrejas (todas as crenças e religiões), nas comunidades, enfim em todas as instâncias, para toda população rural e urbana, que de forma direta e indireta é prejudicada pela ocorrência desta catástrofe anual, fruto da falta de educação e conhecimento da população, da omissão covarde e criminosa dos nossos dirigentes e líderes da passividade e conformismo dos nossos produtores.
Os sindicatos rurais, as cooperativas agropecuárias, as associações de produtores, as empresas de reflorestamento, os comitês de bacias hidrográficas, dentre outras instituições do setor, deverão se juntar ao Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, as universidades, as escolas para deflagrarem uma campanha de educação ambiental visando a prevenção de incêndios rurais e urbanos, pois vale lembrar que eles também ocorrem nas cidades, em especial, por ocasião das festas juninas, quando lamentavelmente ainda é comum soltar balões.
Cabe aos governos federal, estadual e municipal proporcionar recursos para realizar esta campanha, contando com o apoio das entidades de classe dos produtores rurais, em especial da Confederação Brasileira da Agricultura e Pecuária (CNA), da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP), da Associação de Plantio Direto no Cerrado (APDC), dos bancos públicos e privados, das empresas do agronegócio e, principalmente, dos próprios produtores.
Creio que esta deverá ser a primeira medida do programa Agricultura de Baixo Carbono a ser implementada pelo próximo governo, se ele realmente estiver disposto a cumprir os compromissos voluntários assumidos pelo atual governo na COP 15.
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