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A 3ª Conferência Internacional sobre Biocarvão, a IBI 2010, está acontecendo no Rio de Janeiro de 12 a 15 de setembro, em Copacabana. O evento mundial acontece a cada dois anos e está trazendo mais de 300 cientistas especializados em fertilidade do solo de dezenas de países como china, argentina, Estados Unidos, Austrália, Reino Unidos, Canadá, Chile, Espanha e Japão, além de diversos brasileiros. O biocarvão, também conhecido como biochar, é uma das maiores promessas mundias do setor agropecuário para a redução do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera.
Estima-se que por ano sejam despejados mais de 10 milhões de toneladas de carbono, principalmente pela indústria, e o solo tem capacidade de armazenar toda esta quantidade durante centenas de anos. Com isso, o biocarvão não se torna apenas uma tecnologia carbono zero, em que as emissões são compensadas pela estocagem de carbono, e pode ser classificada como carbono negativa, já que a capacidade de armazenamento é superior à liberação de carbono. O biocarvão é um material rico em carbono obtido de uma fonte de biomassa carbonizada ou pirogênica, ou seja, que sofreu pirólise e foi carbonizada e é um ótimo condicionador de solos. Uma das características positivas do biocarvão é que o carbono contido no material é estável, o que faz com que ele se decomponha de forma muito lenta e só retorne à atmosfera após centenas de anos.
— A ciência têm procurado, através de várias técnicas, capturar carbono da atmosfera e estocar em algum compartimento da natureza. O solo é um destes compartimentos que possui grande potencial de estocar carbono e a capacidade de estocagem é infinita. Algumas estimativas da pesquisa indicam que, com uso do biocarvão no solo, seria possível armazenar cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono ao longo de 30 anos. Isso é quantidade bastante significativa e praticamente equivalente às emissões industriais. É uma tecnologia bastante barata, em termos de custo operacional para incorporar biocarvão em alguns sistemas de produção agrícola é uma solução bastante viável. Normalmente os projetos de carbono no país atualmente são tecnologias de carbono zero, em que você compensa o carbono emitido. O biochar é carbono negativo, porque além de compensar o carbono emitido naquele sistema de produção está estocando carbono além da quantidade emitida — explica Claudia Maia, pesquisadora na área de carbono no solo da Embrapa Florestas.
Uma grande vantagem do biocarvão é que além de contribuir para amenizar os efeitos das mudanças climáticas, ele aumenta a fertilidade do solo, de forma indireta, porque funciona como se fosse uma esponja retendo nutrientes e água. Com esta característica de condicionador de solo, o biocarvão potencializa o efeito dos fertilizantes aplicados ao solo e otimiza a água fazendo com que a produtividade seja aumentada em até 30%, em alguns casos. Claudia é uma das interantes da comissão organizadora do evento que conta com a Embrapa Solos, Embrapa Florestas, Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Amazônia Ocidental. Ela explica que além do aumento de produção, o biocarvão proporciona outra vantagem econômica que é a redução dos gastos de produção, já que o produtor precisa aplicar menos fertilizante nos solos que contém biocarvão.
— Todo o resíduo de plantas, animais e compostos são formas orgânicas de carbono. A diferença entre o biocarvão e a matéria orgânica mais conhecida pelo agricultor é que a forma do carvão no biocarvão é muito estável e isso significa que ele leva muito tempo para ser degradado e fica estocado durante centenas de anos. Embora ele não tenha uma função direta na fertilidade do solo, quando ele está associado com outras formas de matéria orgânica ou mineral ele ajuda a segurar os nutrientes, não deixa que a chuva os lave e ajuda a reter uma quantidade maior de água. Temos respostas com aumentos de até 30% de aumento de produtividade, em alguns casos, por causa do uso do biocarvão — analisa.
A Embrapa está desenvolvendo um trabalho em rede com 12 de suas unidades para testar os efeitos da carbonização de várias fontes de biomassa em culturas como arroz, soja, pastagens e florestas. Praticamente qualquer tipo de biomassa pode ser pirolisada para virar biocarvão como madeira de eucalipto, casca de arroz ou bagaço de cana, segundo Claudia Maia. A pesquisa sobre o biochar é recente do ponto de vista científico, só existe a pouco mais de uma década. Muitas informações ainda precisam ser geradas para certificar o poder do biocarvão e ampliar a utilização do material no Brasil, mas com os dados que se têm até agora os pesquisadores recomendam, em geral, uma dose de 10 toneladas de carvão por hectare.
— O Brasil é o principal produtor de biocarvão do mundo, é responsável por cerca de quase 40% da produção mundial e estima-se que cerca dos 10 milhões de toneladas de carvão produzidos por ano, cerca de 15% se perde em finos de carvão, que é material que esfarela no transporte, que se quebra. É um material de custo muito baixo e fácil de ser encontrado. O que muda é que em alguns lugares a facilidade de se encontrar uma carvoaria é muito grande e em outras não. Existem vários sistemas deste tipo, alguns mais modernos e eficientes e outros mais rústicos como as carvoarias. Exatamente o mesmo material que a gente usa no nosso churrasco ou para produzir energia também tem sido usado no solo como uma maneira de estocar carbono — exemplifica Claudia.
Terra preta de índio
As terras pretas de índio são solos extremamente férteis encontrados na Bacia Amazônica oriundos de uma mistura de diversos tipos de matéria-orgânica carbonizada que teriam sido depositadas no solo da região há cerca de 4 mil anos atrás pelos índios, na era pré-colombiana. Ainda não se sabe extamente o motivo da queima de matéria no solo, se eram questões ritualísticas e culturais ou propositais para aumentar a fertilidade da terra. Os estudos sobre estas manchas de fertilidade no solo amazônico, que geralmente é muito pobre, começaram há cerca de três décadas e há alguns anos os cientistas tentam reproduzir, em parte, o efeito de fertilidade no solo que as terras pretas de índio conseguem. Nestas pesquisas surgiu a ideia de produzir o biocarvão e aplicá-lo no solo assim como os índios fizeram há muitos séculos. Como a maior parte da Amazônia é brasileira, o Brasil é um país-chave nas pesquisas sobre biocarvão.
— A ideia de enriquecer as terras com carvão para aumentar a sustentabilidade da fertilidade do solo, mantendo-a em
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