Brasil, um país com dimensões continentais, potencial agrícola extraordinário, clima e solo favoráveis à produção e uma representatividade de 42% no PIB brasileiro devido à atividade agropecuária. É de se imaginar que a quantidade de trabalhadores no campo de um país assim seja equivalente ao entusiasmo dessas afirmações. Melhor, acreditamos que o já considerado dito popular “em se plantando, tudo dá” se faz valer.
Porém, de tudo se plantou e tudo deu em um passado recente no caso da produção nacional de alho. Digo recentemente porque há 20 anos o mercado nacional era abastecido em 90% com alho brasileiro e gerava 180.000 postos de trabalho. Hoje, abastecendo 30% do território nacional, o setor alheiro emprega 80.000 trabalhadores. Em 20 anos muita coisa mudou. Pouca coisa se plantou e pouca coisa se deu.
Incrível mesmo é imaginar que enquanto o mundo vive a chamada “globalização”, o cotidiano das pessoas se funde com novas tecnologias, grupos organizados alertam para a necessidade de proteção ao meio ambiente, o HOMEM seja tão esquecido. Será que vivemos sem este sujeito? O HOMEM que produz, planta, colhe, que precisa de renda, emprego, casa, conforto, condições dignas familiares? A lista de suas atividades e necessidades é imensa. Além do mais, pode ser que este homem seja aquele HOMEM que põe alimento na mesa de milhares de brasileiros. Sem ele, o alho, a batata, a cebola, o alface, o tomate, provavelmente não estariam ao alcance da maioria das pessoas, principalmente nos grandes centros urbanos. Afinal, não há estatísticas de quantas hortas existem por cada sacada de apartamento, não é mesmo?
Em 20 anos 100.000 postos de trabalhos foram extintos, milhares de mão de obra dispensadas e uma diminuição de produção de 10.000 hectares de área plantada. Estes dados não responsabilizam o produtor. Não é por sua culpa ou falta de interesse de sua parte que a produção tenha decaído tão assustadoramente. E isso se deve à abertura de mercado ao produto estrangeiro. Isso fez com que o produtor brasileiro se deparasse com a impossibilidade de competição frente ao mesmo produto importado. Em decorrência desta política de mercado, houve perda de área plantada, abastecimento e gente.
O Brasil abriu as portas e outros países não dispensaram o convite. A China, principal exportadora de alho para o mundo, entrou com tudo. Com uma história rural que revela câmbio desvalorizado, baixíssimo custo de produção, desvalorização da mão de obra e precariedade no controle de qualidade, este país ditou as regras para o mercado mundial. A entrada do produto com valores muito abaixo dos praticados em terras brasileiras, frente ao custo da produção nacional devido a pesadas cargas tributárias, altos valores na aquisição de insumos, máquinas e implementos e grandes investimentos em tecnologia, não permitiu alternativas.
O Brasil não produz o que consome. Isso é fato. Sabemos da necessidade de importações e não queremos aqui criar um impasse. Entretanto, o que a classe produtora tem como motivo de luta é o desafio da concorrência leal dos mercados. Uma concorrência que deixe espaço para que o trabalhador rural continue no campo, vislumbre o desenvolvimento de sua atividade, tenha seus direitos trabalhistas garantidos e gere renda.
Afinal, o alho é uma cultura altamente empregadora de mão de obra. Tem um cunho social muito grande, quando emprega por cada hectare plantado 4 empregos diretos e 6 empregos indiretos. Total de 10 postos de trabalho gerados por hectare de alho plantado.
É por isso que diante dessas pessoas que dependem da manutenção, avanço e desenvolvimento da atividade não é possível cruzar os braços. É inadmissível deixar que a falta de políticas públicas e fiscalização eficiente, juntamente com a ação de alguns importadores que por intermédio de liminares não recolhem os impostos devidos à importação, a cadeia produtiva se interrompa.
Você se sente parte desse problema?
Opte pelo alho brasileiro.
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