No mês de junho passado participamos do Congresso Argentino de Ciência do Solo realizado na cidade de Rosário na Argentina (www.suelosrosario2010.com.ar ) e também do 12º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha realizado em Foz do Iguaçu. Nas duas ocasiões aconteceram conferências, mesas redondas e painéis abordando temas relacionados ao uso de bioindicadores para avaliação da qualidade de solo e sobre o funcionamento biológico do solo em áreas sob plantio direto. Nossas participações nesses eventos e o grande volume de perguntas nos debates que ocorrem após as mesmas são prova do interesse crescente por esse tema, não só por parte da comunidade científica, mas também por técnicos da extensão rural e produtores. Nesse sentido gostaríamos de destacar esse mês na nossa coluna uma publicação recente, da Academia de Ciências dos Estados Unidos, intitulada "Toward Sustainable Agricultural Systems in the 21st Century" (tradução “Em direção a sistemas agrícolas sustentáveis no século 21), que ressalta a questão da agricultura não só como produtora de alimentos mas como prestadora de serviços ambientais importantes (http://is.gd/d9xU8) e notícia veiculada pela Embrapa Soja sobre o impacto de um estudo publicado por cientistas brasileiros sobre biomassa microbiana e que vem chamando a atenção da comunidade científica internacional preocupada com a sustentabilidade dos solos agrícolas. No próximo artigo da coluna vamos falar sobre Índices de qualidade de solos.
Monitoramento dos microrganismos do solo pode ser um bom indicador da sustentabilidade agrícola
Um estudo publicado por cientistas brasileiros vem chamando a atenção da comunidade científica internacional preocupada com a sustentabilidade dos solos agrícolas. Os cientistas brasileiros conseguiram estabelecer parâmetros que indicam, de modo eficiente, barato e ágil, os impactos provocados por diferentes manejos do solo e das culturas, pelo uso de agrotóxicos e por diversas práticas agrícolas na sustentabilidade dos solos.
O estudo foi publicado na revista Soil Biology and Biochemistry, referência mundial em ciência do solo, e se tornou um dos mais acessados da publicação. “É uma surpresa verificar o interesse internacional nos estudos sobre qualidade do solo conduzidos no Brasil”, comemoram os autores: a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, e os professores Glaciela Kaschuk e Odair Alberton, da Unipar (Umuarama-PR).
Intitulado “Três décadas de estudos sobre a biomasssa microbiona do solo em ecosistemas brasileiros: lições aprendidas sobre qualidade do solo e indicadores para melhoria da sustentabilidade”, o artigo foi o quinto mais consultado no site da revista por vários meses e ainda está na lista do “25 artigos mais quentes” (ScienceDirect TOP25 Hottest Articles, http://top25.sciencedirect.com/). O estudo mostra que, com a avaliação de parâmetros relacionados à atividade microbiana do solo, é possível detectar, de modo eficaz e antes de qualquer alteração química ou física, os efeitos impactantes da atividade agrícola no solo. Entre esses parâmetros, estão a avaliação do carbono ou do nitrogênio acumulado na biomassa microbiana do solo.
No Brasil, várias pesquisas têm buscado opções que minimizem a fragilidade dos solos tropicais, bastante sensíveis à erosão. “Por isso, é muito importante encontrar parâmetros que indiquem - de modo eficiente - os impactos resultantes de diferentes manejos do solo e da cultura e possíveis alterações resultantes desses manejos”, relata a pesquisadora Mariangela Hungria. “Queríamos verificar a eficácia desses parâmetros em diversos ecossistemas e manejos do Brasil, indo além dos ensaios conduzidos por nosso grupo”, diz Hungria.
A análise global dos resultados confirmou a sensibilidade desses parâmetros e sua eficácia na detecção de impactos. Como exemplo, foram evidenciados os benefícios do plantio direto na palha, sem revolvimento do solo, em relação ao plantio convencional. Por outro lado, os impactos negativos pelo uso de agrotóxicos foi demonstrado, enquanto que os benefícios pela adoção da agricultura orgânica não são conclusivos. “Uma análise de resultados obtidos no Brasil mostra que no sistema de plantio direto ¬ sem revolvimento do solo - a biomassa microbiana é, em media, 58% superior a do plantio convencional”, explica a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora, os dados obtidos no Brasil dão confiabilidade à adoção de parâmetros microbiológicos em monitoramentos visando a sustentabilidade agrícola. “Foi uma surpresa verificar o interesse internacional nos estudos de qualidade do solo conduzidos no Brasil, que já desponta entre os líderes nesse área. É um avanço importante porque essas análises não requerem equipamentos sofisticados e podem ser realizadas em vários laboratórios de instituições de pesquisa publicas e privadas e universidades”.
Fonte: Jornalistas Carina Gomes Rufino e Lebna Landgraf , da Embrapa Soja.
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