É de conhecimento comum que as margens líquidas nas empresas rurais vêm se reduzindo ano a ano. Diversas organizações mantêm índices de custos de produção para a pecuária leiteira, por exemplo Cepea, Embrapa e Scot Consultoria. Todos os índices registram o aumento gradual dos custos de produção para se produzir leite no país.
Com os preços reais (considerando a inflação) em queda é de se esperar que as margens recuem ao longo dos anos. Na prática, o produtor percebe o efeito desta redução de margem pela necessidade de aumento de escala na produção. Em outras palavras, com o volume que era produzido há alguns anos, hoje em dia é insuficiente para manter o mesmo padrão de retirada de dinheiro. Ocorre o empobrecimento do produtor.
Embora a palavra empobrecimento seja forte, ela reflete a realidade, pois a mesma produção permite ao produtor comprar cada vez menos. Quantificar essa queda sempre foi um desafio, haja vista as diferentes realidades entre as fazendas produtoras de leite. Não há padrão de sistemas de produção e as inúmeras maneiras de conduzir a rotina levam a diferenças enormes entre os custos de produção em propriedades semelhantes umas às outras.
Ainda assim, é possível estimar essa queda nas margens a partir da composição média dos custos de produção em uma propriedade padrão. Com isso, aplica-se a evolução dos preços dos diversos insumos e serviços proporcionalmente à participação deles nos custos de produção. Mês a mês é possível identificar a variação dos custos, da mesma forma que se calcula índices de inflação.
Essa é basicamente a metodologia adotada pelos diversos institutos e organizações que acompanha custos de produção.
Pois bem, para calcular essa redução de margens, a Bigma Consultoria aplicou os mesmos critérios porém foi alterando a composição dos custos de produção período a período. Por exemplo, se o preço dos fertilizantes aumenta mais do que os demais preços, no mês seguinte sua participação nos custos de produção aumenta. E assim por diante.
Aplicamos essa metodologia desde 1994, início do plano Real, e ano que marca grandes mudanças na administração rural, com ambiente de estabilidade na moeda.
Observe, nas figuras 1 e 2, as diferenças entre a composição de custos de uma propriedade leiteira, considerando que não tenha ocorrido nenhuma alteração no sistema de produção adotado.
No período, nota-se o ganho de importância dos salários na composição dos custos da pecuária de leite. Os demais custos apresentaram alterações também, mas nada tão evidente quanto os salários. Vale ressaltar que essa análise considera o caso de uma empresa que manteve a mesma estrutura de funcionários e a mesma tecnologia ao longo dos anos. Na prática, os produtores buscam reverter essa tendência aplicando tecnologias e inovando em sua fazenda. Por isso que “cada caso é um caso”.
Enfim, voltando à análise, podemos estabelecer como 100 a margem líquida de 1995. Mesmo que não seja conhecida, consideramos como 100 para efeito comparativo. A partir de então, aplicamos a evolução mensal dos custos de produção e a evolução dos preços do leite, levantados pelo Cepea e pela Scot Consultoria.
A evolução da diferença entre preços e custos é o comportamento das margens. Com isso, somando cada um dos anos, podemos construir a figura 3, que ilustra as margens líquidas da pecuária leiteira considerando o ano de 1995 igual a 100.
Observe que a margem relativa atual está girando ao redor de 40% do que era obtido em 1995. Isso implica dizer que para manter o mesmo padrão de vida na mesma área, o produtor precisaria produzir, no mínimo, duas vezes e meia mais hoje em dia do que no início do plano Real.
No gráfico também é possível notar que 2010 caminha para ser um ano tão bom quanto 2007 em termos de margens. No mais, a figura reforça a necessidade de se agregar tecnologias nas empresa leiteiras. Se não ganhar em produtividade, as margens serão cada vez menos suficientes para manter os produtores.
|