A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação conceitua a desertificação como o processo de degradação das terras das regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas, resultante de diferentes fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas. Estão ligados a esse conceito as degradações do solo, fauna, flora e recursos hídricos.
No caso do solo, sua degradação resulta de processos naturais que podem ser induzidos ou catalizados pelo homem. O processo de degradação dos solos produz a deterioração da cobertura vegetal, do solo e dos recursos hídricos. Através de uma série de processos físicos, químicos e hidrológicos essa deterioração provoca a destruição tanto do potencial biológico das terras quanto da capacidade das mesmas em sustentar a população a ela ligada.
No Brasil, o Plano Nacional de Combate à Desertificação (PNCD) considerou que a grande maioria das terras suscetíveis à desertificação se encontra nas áreas semiáridas e sub-úmidas do Nordeste. A quantificação dessas áreas mostra que cerca de 181.000 Km2 (o que corresponde a aproximadamente 20 % da área semiárida da região Nordeste), se encontram em processo de desertificação. Neste contexto, as áreas semiáridas do Brasil representam desafio para o aumento da produtividade e a melhoria dos recursos naturais devido às suas características de incertezas nas precipitações pluviométricas, fertilidade dos seus solos e pressões populacionais em ambiente tipicamente frágil.
Atualmente esse problema vem se agravando graças às recentes secas que assolaram o Nordeste. Na maior parte dessa áreas predominam solos rasos e uma cobertura vegetal esparsa de caatinga hiperxerófila. Sob estas condições e nos locais onde os agroecossistemas são dependentes de chuva, a perda de solo por erosão é o principal fator que conduz as perdas das terras produtivas do semiárido. No Nordeste, as áreas com níveis de degradação ambiental severo são tipicamente ocupadas por solos da classe Bruno Não Cálcicos que apresentam forte sensibilidade à erosão.
As áreas onde o problema da desertificação é mais acentuado são conhecidas por núcleos de desertificação. São os seguintes no Nordeste: 1) Núcleo do Seridó, localizado na região centro-sul do Rio Grande do Norte e centro-norte da Paraíba, abrangendo área de aproximadamente 2.341 km2, envolvendo vários municípios em torno de Parelhas; 2) Núcleo de Irauçuba, no noroeste do estado do Ceará abrangendo uma área de 4.000 Km2 incluindo os municípios de Irauçuba, Forquilha e Sobral; 3) Núcleo de Gilbués no Piauí,com uma área aproximada de 6.131 Km2 envolvendo os municípios de Gilbués e Monte Alegre e 4) Núcleo de Cabrobó em Pernambuco que totaliza uma área de 5.960 Km2 abrangendo os municípios de Cabrobó, Belém de São Francisco e Floresta.
Os solos das classes Bruno Não Cálcico, litólico e Planossolo com cobertura vegetal de caatinga hiper-xerófila dominam os núcleos de desertificação de Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que no núcleo de Gilbués dominam os solos das classes latossolo, Areia Quartzoza e Podzólicos sob vegetação do tipo campo-cerrado. A erosão hídrica responde pelas perdas de solo nos núcleos de desertificação de Irauçuba, Cabrobó e Seridó enquanto que no núcleo de Gilbués, além dessa, a erosão eólica tem relevância nos meses de agosto a novembro.
Além da fragilidade natural motivada pelas características dos seus solos e pelas condições climáticas, esses núcleos se desenvolveram sobre forte e indevida interferência humana. Entre as causas comuns estão o desmatamento indiscriminado, as queimadas e o sobrepastejo de caprinos e ovinos. No núcleo de desertificação do Seridó o problema do desmatamento é agravado pela presença de cerca de 70 olarias cujos produtos cerâmicos são de reconhecida qualidade nos grandes centros urbanos do Nordeste. As indústrias de cerâmica dessa região tem agravado o processo de desertificação devido a elevada demanda por lenha para geração de energia.
Além dos já mencionados, outros fatores antrópicos desempenham papel importante nos processos de desertificação no semi-árido. Neste contexto a salinização é a principal causa da degradação dos solos e consequente desertificação nas áreas de agricultura irrigada. A desertificação associada à salinização dos solos ocorre em maior ou menor proporção em quase todas áreas irrigadas do Nordeste e, embora sua expressão em termos de área seja consideravelmente menor quando comparada às áreas de sequeiro afetadas pelo problema, o seu custo sócio-econômico é, comparativamente, também elevado. Dos núcleos de desertificação acima mencionados, o de Cabrobró é o único onde a salinização, mesmo sem se constituir na principal causa, apresenta alguma
relevância no processo de desertificação das suas áreas situadas às margens do rio São Francisco.
Um outro fator responsável pelo processo de desertificação é a atividade de mineração. A extração de diamantes tem sido apontada como uma das principais causas do processo de desertificação no núcleo de Gilbués, no Piauí. Essa atividade também pode ser apontada como uma das causas da desertificação em diversas áreas do núcleo do Seridó. Esses núcleos de de sertificação têm sido objeto de estudos em anos recentes e, embora ainda insuficientes, as informações obtidas nesses estudos representam a base do acervo sobre desertificação no Nordeste do Brasil. O núcleo de GiIbués apresenta um grande acervo de informações incluindo o Zoneamento Agroecológico na escala de 1: 100.000. O mapeamento dos solos do núcleo de Cabrobró foi concluído pela Embrapa, assim como o dos solos de uma área piloto do Seridó, ambos na escala 1:100.000. Outros estudos se encontram em andamento e, dada a relevância que o tema vem assumindo, espera-se um incremento substancial no número de trabalhos sobre a desertificação no semiárido brasileiro.
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