O apagão de Itaipu, as enchentes no sudeste e sul do país e outros fatos recentes têm nos levado a refletir sobre a urgência de definirmos algumas ações que reduzam a agressão ao ambiente e, ao mesmo tempo, não restrinjam o desenvolvimento. Esta discussão é atual e levanta três questões fundamentais: Isto será possível? Quem realizará as ações? Quem pagará esta conta?
Interessante observar que neste aparente caos, algumas ações já vêm sendo realizadas com resultados positivos, como a adoção da técnica do Plantio Direto na produção de alimentos.
O sistema de Plantio Direto não implica no preparo do solo, isto é, a semeadura é realizada diretamente sobre os restos orgânicos existentes na superfície, conhecido como palhada. Mas como fica essa técnica em relação às três questões levantadas acima?
Em relação à eficiência agrícola e ambiental do sistema, resultados de pesquisa demonstraram que os resultados de produtividade alcançados no Plantio Direto superam os do Plantio Convencional. Além do benefício econômico, outra vantagem é o ganho ambiental, como a redução da emissão de carbono que pode chegar aos 80 kg de carbono/hectare/ano.
Essa diminuição, inclusive, atende à sugestão do Prêmio Nobel Al Gore que, em visita ao Brasil, ressaltou a urgência do mundo em “re-carbonizar” o solo, “descarbonizando” a atmosfera. A adoção do Plantio Direto significa mais carbono no solo e menos carbono na atmosfera, que é exatamente o que se procura para a diminuição dos gases de efeito estufa, como o CO2.
Além disto, no Plantio Direto ocorre a redução do uso de combustível, da ordem média de 10%, contribuindo ainda mais para a redução da emissão de gases de efeito estufa para o ambiente.
Ainda dentro do aspecto ambiental, a adoção do Plantio Direto diminui em até 99% a erosão dos solos. A erosão contamina os mananciais e é o principal responsável pelo assoreamento dos rios e represas, inclusive aquelas que abastecem as usinas.
Estudos realizados em 1977 mostraram que a hidrelétrica de Itaipu recebia um despejo de 12 milhões de toneladas de solo/ano no lago da usina. Mas, em 2007, com a adoção de práticas agrícolas conservacionistas, entre elas o Plantio Direto, o volume de detritos reduziu em mais de 50%.
A segunda questão, sobre quem realizará as ações, já está sendo respondida, desde a década de 60, quando os agricultores nos EUA e Europa foram os pioneiros na adoção do Plantio Direto. A técnica é usada pelos agricultores brasileiros desde a década de 70 e se consolidou como um modelo para o restante do mundo. Hoje, o sistema abrange cerca de 32 milhões de hectares, chegando a aproximadamente 70% das lavouras de grãos.
E quem pagará a conta? A conta já está sendo paga pelo rateio entre os atores do sistema. Pela pesquisa agrícola nacional realizada por diversos institutos públicos, pela pesquisa privada e pelas universidades, com grande esforço intelectual e financeiro, capaz de adaptar o sistema para as condições tropicais e subtropicais do país.
Pela iniciativa privada, com o investimento no desenvolvimento de máquinas adaptadas ao Plantio Direto, herbicidas para manejar as plantas daninhas e outros produtos que auxiliaram na consolidação deste sistema.
E finalmente pelos produtores, principalmente, por aqueles pioneiros que, no início da década de 70, tinham a consciência da necessidade de aumentar a produção agrícola, mas de maneira sustentável.
Hoje, a discussão do Plantio Direto ganhou dimensões globais e podemos dizer que o governo brasileiro acertou ao incluir o tema na pauta de negociações da COP-15. O assunto é de interesse mundial e foi percebido na conferência como uma forma eficiente de amenizar os problemas ambientais do planeta e contribuir para um mundo melhor no futuro.
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