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Sequestro de carbono é uma nova terminologia que está crescendo, principalmente em nível internacional, mas ainda é muito desconhecida no Brasil. O processo significa capturar parte do gás carbônico da atmosfera e armazená-lo no solo. Para retirar o carbono do ar que é despejado em excesso pelas fábricas, motores de carros, desmatamento e diversos outros fatores, várias tecnologias têm sido desenvolvidas na última década e algumas chegam a custar milhões de dólares e requerem equipamentos sofisticados e de alto custo. No entanto, a agricultura pode contribuir de forma simples e econômica com o sequestro de carbono. As plantas já fazem isso na sua essência, através da fotossíntese, mas, com a adoção do Plantio Direto associado a rotação de culturas, é possível armazenar mais carbono no solo do que a quantidade que é emitida de volta para o ar.
— Na agronomia, o sequestro de carbono é um processo que ocorre a partir das plantas, pelo mecanismo da fotossíntese. As plantas capturam o dióxido de carbono que está na atmosfera transformando-o em produtos chamados fotossimilados e, ao terminar o seu ciclo de vida, os resíduos culturais das diversas culturas são depositados na superfície. Durante o processo de decomposição, uma parte destes resíduos (de 15% a 25 %) pode ser convertido em carbono orgânico no solo e a maior parte retorna para a atmosfera. A quantidade de carbono que vai retornar para a atmosfera vai depender principalmente do manejo. Na agricultura, quando as entradas ou aportes de resíduos culturais forem maiores do que as saídas do carbono, via respiração da atividade microbiana, haverá sequestro — explica João Carlos de Moraes Sá, professor do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Existem basicamente três maneiras de os produtores causarem o sequestro de carbono em suas propriedades. Primeiro, é preciso fazer uma combinação de culturas adequadas, com cobertura verde. Na Região Sul, por exemplo, as culturas tradicionais de verão são o milho e a soja e as de inverno são o trigo e a cevada. Além disso as culturas destinadas à cobertura do solo, tais como aveia preta e ervilhaca, compõem o sistema de rotação. O ideal é plantar milho após a cultura de aveia, porque essa combinação deixa mais palhada na superfície para a formação de matéria orgânica no solo. O produtor que usar uma sequência como soja e trigo terá o balanço de carbono no solo negativo. No Cerrado, a manutenção da palhada na superfície é mais difícil por causa das altas temperaturas que favorecem a decomposição da matéria orgânica, liberando o gás carbônico para a atmosfera. Para os produtores do Cerrado, o ideal é usar a safrinha de milho, após a soja, com a braquiária ou o milheto para manter o solo permanentemente coberto e proporcionar o maior sequestro.
A integração lavoura-pecuária também favorece o sequestro de carbono por causa do uso das pastagens, que cobrem o solo. Nesta técnica, além de produzir os grãos que está acostumado, o produtor acrescenta na sua fazenda uma espécie de gramínea para ser pastoreada e ganha a produção de carne. Na maioria dos casos, a sequência é feita com soja, milho safrinha e braquiária, que produz muita biomassa. Além do sequestro de carbono, neste caso, o produtor também teria mais uma fonte de renda com a produção de carne. A terceira alternativa para o agricultor provocar o sequestro de carbono é usar as culturas perenes associadas à cobertura vegetal permanente. João Carlos Sá dá como exemplo o café, em que a rua do cafeeiro pode ser mantida com cobertura, dessa forma é possível produzir uma outra cultura na entrelinha do café, manter o solo coberto, ter um manejo favorável e aportar carbono no solo.
— O sequestro de carbono vai ser bastante interessante no momento em que o produtor tomar consciência do que isto significa. Isto, porque no momento em que nós desenvolvemos uma atividade agropecuária com base na conservação do carbono nós teremos inúmeros benefícios para a própria qualidade do solo. O carbono é componente chave de vários atributos do solo. Ele pode proporcionar uma maior agregação do solo, isto significa que partículas dispersas pelo processo de preparo podem ser agrupadas. Isso vai aumentando a porosidade, aumenta a infiltração e a possibilidade de armazenamento de água e permite que as plantas desenvolvam o seu sistema radicular em profundidades maiores. Em períodos de veranico, o solo tem condição de armazenar água por mais tempo e dá suporte à planta nas fases críticas. Então, o sequestro de carbono vai ter benefícios muito importantes na questão da resposta da planta, mas também na qualidade do solo e do meio ambiente. Se aumentar a qualidade e a produtividade, o produtor vai ter maior chance de aumentar o seu rendimento — diz o professor.
São vários benefícios que o produtor ganha sequestrando carbono na sua propriedade, inclusive vantagens econômicas. O agricultor pode entrar, por exemplo, para o mercado de carbono e ter uma renda extra. O mercado de carbono ainda não é muito conhecido no Brasil e é relativamente recente em todo o mundo, mas está em franca expansão. É um mercado onde se valoriza justamente o sequestro do carbono. Empresas do mundo todo, de diversos setores poluentes vão atrás de produtores de carbono e pagam para que eles façam o sequestro. Dessa forma, haveria um certo equilíbrio entre o que está sendo despejado de gás carbônico pelas indústrias e o que é sequestrado de carbono para o solo. As grandes indústrias poluidoras pagam grandes quantias ao produtores para que eles continuem fazendo o sequestro de carbono em suas propriedades.
— É um mercado que está em busca de produtores de carbono e quem são os produtores de carbono? São sistemas de exploração de madeira, sistemas elétricos de energia limpa, sistemas de integração lavoura-pecuária e, mais recentemente, a agricultura está começando a ter uma possibilidade de entrar neste mercado através do Plantio Direto. O benefício que isto vai trazer ao produtor é uma renda extra. Para entrar no mercado de carbono o produtor, obrigatoriamente, terá que cobrir todos os pontos que eu abordei: parar de preparar o solo e aumentar os aportes de palhada, o que vai impactar em aumento da qualidade do solo e terá reflexo no rendimento das culturas. O mercado de carbono será o que eu chamo de uma bonificação que irá premiar estes bons serviços que o produtor poderá fazer ao ambiente e naturalmente garantindo a sua sobrevivência com maior qualidade no campo — ressalta João Carlos Sá.
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