Recente noticiário dá conta que também o segmento industrial do setor lácteo será objeto de concentração no Brasil, assim como outros capítulos do agronegócio, como carnes, sucroenergéticos, sucos, fertilizantes e sementes, entre outros. Não é novidade e faz parte de um processo irreversível determinado pela globalização e pela competitividade.
Este é um setor da maior importância para o agronegócio brasileiro particularmente porque tem tudo a ver com saúde pública, na medida em que é base da alimentação infantil e é usado por todas as camadas da população, sendo, inclusive, objeto de políticas governamentais distributivistas.
Há tempos vimos defendendo que o sucesso da cadeia leiteira depende de alguns fatores essenciais óbvios: tecnologia (para maior produtividade), sanidade, escala e gestão. E todos estes temas vem sendo contemplados com vigor pelas áreas privadas e governamentais participantes da cadeia produtiva.
Nos últimos 10 anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), saímos de um consumo per capita de leite fluido no Brasil de 74,9 litros para 80,8 litros, um salto de 8%. Em outros países, o consumo é maior: Austrália, 105 litros; Canadá, 89,9 litros; EUA, 94,7 litros; Nova Zelândia, 84,5 litros e Ucrânia, 106,3 litros.
A produtividade também cresceu: era de 1.230 litros/vaca/ano há 10 anos e hoje é de 1.617 litros/vaca/ano. Este crescimento foi de 2,8% ao ano, enquanto Austrália cresceu 1,5% ao ano, Canadá 2,1%, EUA 1,7% e União Européia 1,9%. Mas temos muito que avançar porque este crescimento parte de uma base extremamente baixa: a produtividade média dos países citados superou 7000 litros.
Para 2010, a estimativa de nossa produção é de 31,8 bilhões de litros para um consumo de 27,93 bilhões de litros e poderemos exportar parte deste excedente, segundo o Ministério da Agricultura.
O Brasil é um dos poucos países do mundo que apresenta condições favoráveis de ampliar sua produção a ponto de gerar grandes excedentes, mas precisamos aprender a fazer conta para produzir barato. Quem encontrar este caminho ganhará dinheiro.
Até porque este é o ponto mais relevante, a renda do produtor de leite, elo principal de toda a cadeia.
Leite nunca foi um produto com preços remuneradores para todos os produtores e somente aqueles que conseguem atender aos 4 fatores já referidos (inclusive e/ou principalmente através de suas cooperativas) são capazes de evoluir sustentavelmente na atividade.
Mesmo assim, 2010 é aparentemente melhor que o ano passado para os pecuaristas. Com o estimado aumento de 5% do PIB brasileiro deste ano, com certeza crescerá a demanda por leite. Além disso, a safra de grãos é recorde (milho e soja), o que tende a reduzir os custos de produção de proteína animal.
Ora, custo menor e demanda maior são dois bons indicadores de melhor renda, até eventualmente de melhor preço, o que, aliás, já se mostra no preço de leite em pó (US$3500/ton.), o segundo melhor preço da história.
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