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A Embrapa Solos tem um programa de recuperação de áreas degradadas em diversas regiões do Brasil. Uma equipe, liderada pelo pesquisador José Ronaldo Macedo, escolhe áreas em processo avançado de degradação para recuperar o local, reduzindo os impactos ambientais e devolvendo a produtividade ideal ao produtor. O programa dura cerca de três anos, tempo suficiente, segundo Macedo, para restabelecer os níveis de produção, recuperar as áreas degradadas e capacitar técnicos locais para que o problema não volte a ocorrer dentro da propriedade escolhida ou em outras fazendas da região.
— O programa de recuperação de áreas degradadas da Embrapa Solos corre por conta de editais. Selecionamos áreas que tenham processo de degradação de interesse local ou regional e apresentamos propostas. Se a proposta for aprovada, nós temos um prazo de cerca de três anos, que é um tempo hábil pra gente recuperar uma área agrícola e torná-la produtiva. A gente vai na área, faz o diagnóstico, vê qual é a aptidão do produtor, e em cima da atividade que o produtor tem a gente a gente faz um sistema de recuperação. No caso de pastagem, por exemplo, antes do plantio do pasto a gente vai fazer um plantio de milho, porque vai dar retorno imediato de seis meses. Parte dos custos de recuperação da pastagem seriam pagos por uma lavoura anterior que fosse mais resistente a uma área degradada e, neste momento, a gente aplicaria os corretivos necessários para fazer a fertilidade correta do solo e aproveitaríamos para fazer as práticas de conservação como terraço, captação de água, plantio em milho — explica Macedo.
Os custos com a recuperação das áreas muitas vezes são altos e o produtor fica assustado achando que não é capaz de pagar pelos serviços. No entanto, Macedo explica que durante os três anos em que a equipe fica na propriedade recuperando as áreas, em alguns casos, é feita uma rotação de culturas para que o produtor tenha capital para pagar pela recuperação. Além disso, ele garante que após os três anos de investimento o lucro do produtor é muito maior, porque ele passa a ter um índice de produtividade muito maior com as condições de solo adequadas.
O pesquisador cita o exemplo de uma lavoura de milho em que se pode produzir de 100 a 120 sacas de milho por hectare. Se o produtor estiver produzindo apenas 50 sacas, por causa da degradação do solo, significa que ele está deixando de ganhar muito dinheiro e, muitas vezes, está gastando mais ainda para usar um número muito grande de adubos e corretivos, que não seriam necessários se a área estivesse em boas condições. Após os três anos de trabalho conservacionista, Macedo diz que esta mesma lavoura de milho produz mais do que 100 sacas de grãos. No caso de pastagem degradada ocorre a mesma coisa. Se antes o produtor levava quase cinco anos para abater um animal que demorava a engordar, por conta da pastagem deteriorada, após a recuperação do pasto este produtor pode abater o seu animal em apenas dois anos, dobrando o seu lucro.
— Normalmente, os produtores acham que não vale a pena investir na recuperação e na implantação de técnicas de recuperação de solo. O produtor tem que pensar o seguinte: uma área que não está produzindo significa que ele está deixando de ganhar e uma área que seja recuperada, já com a correção e implantação da fertilidade com adotação das práticas conservacionistas, vai fazer com que ele tenha rendimentos durante vários anos seguidos. Se eu digo que um processo de recuperação leva três anos e ele tem a vida inteira para recuperar este investimento, é lógico que vale a pena. Então, que os produtores repensem a hora de perceber que a sua área já não produz aquilo que produzia e que entrou em um processo de degradação em que é preciso recuperar — alerta.
Outra preocupação da Embrapa Solos é com a capacitação de técnicos das áreas em que a equipe trabalhou três anos para recuperar áreas consideradas perdidas. Segundo Macedo, este é um ponto essencial do programa porque evita que a mesma área volte para o estado de degradação que se encontrava antes e permite que as propriedades vizinhas sigam o bom exemplo.
— Uma das preocupações que a gente tem é que, ao sair após o nosso prazo fixo, a gente deixe os produtores e os técnicos locais capacitados a continuarem o processo porque tanto o produtor modelo que nós usamos quanto os produtores vizinhos vão precisar desta assistência no futuro e se os técnicos locais não estiverem capacitados as áreas vão voltar para o mesmo processo, talvez a mesma área volte a ser degradada, então é fundamental que haja a capacitação — pontua.
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