Nos artigos anteriores falamos sobre “saúde” do solo e a importância dos microrganismos para os sistemas agrícolas. Hoje vamos abordar especificamente como utilizar os microrganismos como parâmetros para avaliar a qualidade do solo. Aqui é importante lembrar que, nenhum indicador, individualmente, pode descrever todos os aspectos da qualidade de um solo.
Os microrganismos constituem a parte viva e mais ativa da matéria orgânica, que como sabemos é o principal componente de fertilidade dos solos tropicais e um importante indicador de qualidade. Ocorre que mudanças nos teores de matéria orgânica (aumentos ou reduções) do solo levam anos para serem detectadas. No caso de reduções nos teores de matéria orgânica isso é muito crítico por várias razões. Além de fornecer energia e nutrientes para a comunidade microbiana do solo, entre outros fatores podemos mencionar que perder matéria orgânica significa: 1- perder uma importante fonte de P, N e S para as plantas; 2- perder capacidade de troca catiônica (CTC), ou seja, a capacidade de reter Ca, Mg e K, nutrientes fundamentais para o desenvolvimento das plantas; 3- perder capacidade de armazenamento de água no solo e 4- perder um importante fator de formação de agregados e de manutenção da estrutura do solo. Em resumo, perder matéria orgânica, especialmente nos solos tropicais, é condenar os mesmos a um processo de desertificação. Mas como saber de forma rápida que esses problemas estão ocorrendo nas propriedades rurais?
É ai que entram os microrganismos do solo atuando como biondicadores. Qualquer mudança que afeta a matéria orgânica também afeta os microrganismos só que os efeitos na comunidade microbiana podem ser detectados com mais rapidez. Ou seja, observando alterações nos microrganismos podemos antecipar que tipos de mudanças ocorrerão na matéria orgânica do solo em função do manejo adotado na propriedade agrícola: mudanças positivas (aumentos) e negativas (decréscimos).
De uma maneira geral, no Brasil e no mundo, as pesquisas que avaliam o uso dos microrganismos como bioindicadores de qualidade/saúde do solo são recentes. Na Embrapa Cerrados nossas pesquisas nesse tema foram iniciadas em 1998. Até então sabíamos muito pouco sobre o impacto dos diferentes tipos de sistemas agrícolas no funcionamento dos processos microbiológicos em solos de Cerrado.
Em 2004, um grupo de 22 pesquisadores de 11 instituições brasileiras se reuniram em torno da fase I do projeto “Uso de parâmetros microbiológicos como bioindicadores para avaliar a qualidade do solo e a sustentabilidade de agroecossistemas”. Em 2010 os pesquisadores darão início à fase II desse projeto que tem como um de seus principais objetivos selecionar os indicadores biológicos mais apropriados para os diferentes agroecossistemas brasileiros e estabelecer os seus níveis críticos. No período 2010-2013 a prioridade do projeto será dar ao agricultor subsídios (o quê avaliar, como avaliar, quando avaliar e como interpretar o que foi avaliado) para que ele possa monitorar a “saúde” de seu solo.
As avaliações de microbiologia do solo ainda não são realizadas na rotina dos laboratórios de análise espalhados pelo País. Porém, com o aprofundamento e expansão dessas pesquisas ainda chegará o dia em que o produtor, além da parte química e física, pedirá a análise dos atributos microbiológicos do solo, sem que para isso o custo aumente significativamente.
Entre os parâmetros avaliados estão a biomassa e a diversidade microbiana, a respiração e a atividade enzimática do solo. A Biomassa microbiana nada mais é do que a massa (peso) dos microrganismos expresso em grama de C ou de N por kg de solo. A respiração microbiana é determinada com base na captura do CO2 que é liberado de amostras de solo após um número determinado de dias de incubação. As avaliações de atividade enzimática procuram estimar o potencial de enzimas, de origem predominantemente microbiana, capazes de atuar na ciclagem de elementos tais como o P, C, N, S e outros. Já as avaliações de diversidade fornecem indicações sobre a variedade de espécies microbianas presentes no solo e também sobre as diversas funções que essas espécies podem exercer.
Na Região do Cerrado, as avaliações de atividade enzimática têm se destacado entre os parâmetros avaliados pela sua sensibilidade, coerência, precisão, simplicidade e custo. Em médio prazo essas análises são as que mais se habilitam a serem utilizadas em larga escala pelos laboratórios de análises de solo instalados na Região. Na Região Sul o carbono da biomassa microbiana tem mostrado um bom desempenho para monitorar diferenças associadas ao manejo do solo e das culturas. Entretanto, mais estudos sobre a atividade enzimática nos solos dessa região ainda são necessários.
Nas próximas edições da nossa coluna vamos abordar o que já sabemos sobre os bioindicadores em vários agroecossistemas: plantio direto, plantio convencional, sistemas integrados lavoura pecuária, cana de açúcar, sistemas de cultivo orgânico, entre outros. Não perca!!
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