Quando um agricultor decide produzir alimentos preservando a natureza, não é só ele que sai ganhando: é toda a sociedade. Esse é o princípio das iniciativas que remuneram os produtores por recuperar e conservar áreas naturais. Em Santa Catarina, duas regiões se destacam por esse trabalho: os corredores ecológicos Timbó e Chapecó, no Planalto Norte e no Oeste do Estado.
A áreas, que abrigam remanescentes de vegetação nativa, foram criadas para unir a conservação da natureza ao desenvolvimento local e regional. Elas somam 10 mil quilômetros quadrados em 34 municípios, o que corresponde a 10,7% do território catarinense.
Em 26 desses municípios, 260 famílias foram beneficiadas em 2016 com R$462,5 mil em Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). O pagamento varia de R$87,50 a R$350 por hectare/ano, dependendo da qualidade ambiental da área.
Desde 2015, o projeto já pagou pela conservação de mais de 1,5 mil hectares de florestas de araucárias. O programa é realizado pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) em parceria com a Epagri e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (SDS), por meio do Programa SC Rural.
A Epagri realizou uma série de reuniões e visitas para orientar as famílias sobre práticas da agricultura conservacionista e da produção limpa. Esse esforço estimulou ações como restauração de matas ciliares e Áreas de Preservação Permanente (APPs), em alguns casos com o plantio de erva-mate e araucária. Técnicos da Empresa encaminharam os agricultores para a Fatma analisar o potencial de áreas preservadas para receber o PSA.
Nas propriedades, o dinheiro ajuda as famílias a melhorar seu sistema de produção, adotando práticas de menor impacto ambiental e maior rentabilidade. Os agricultores se sentem realizados em produzir mais e melhor e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais. No balanço final, os resultados fazem bem para todos, seja no campo, seja na cidade.
Cuidado recompensado pela natureza
Na propriedade de João Batista Maguerroski, em Timbó Grande, há uma área de 14ha que sempre foi preservada. “Ali nunca teve fogo nem roça, só mata nativa. Sempre gostei de deixar uma área de mata para preservar. É bom porque garante água limpa, protege árvores e bichos que poderiam já estar em extinção”, justifica o produtor.
Em 2016, com ajuda da Epagri e depois da avaliação da Fatma, a família recebeu o PSA pela primeira vez. O incentivo de R$3.981,95 anuais foi investido em material para a área de pastagem, que abriga cerca de 60 cabeças de gado de corte. “Esse projeto é excelente. Se tivesse começado antes, hoje a gente veria mais matas preservadas. Com o dinheiro conseguimos comprar calcário e arame para melhorar nossa produção enquanto aquela área fica protegida”, diz o agricultor, que também cercou a mata para evitar a entrada do gado.
A propriedade da família, que se estende por 120 hectares em Linha Santa Maria, integra o Corredor Ecológico Timbó. Em outras linhas desse projeto, eles já receberam apoio para proteger fontes de água e melhorar as pastagens.
Mas apesar de os bois serem as estrelas da propriedade, não são eles os animais mais importantes que aparecem por lá. “Já vi cateto, paca, tatu, veado, quati e até onça”, conta João. Essas visitas são como um agradecimento da natureza pelo cuidado da família com a mata, que abriga espécies vegetais como imbuia, canela, cedro, corticeira, ingá, xaxim, erva-mate, araçá, guabiroba e araucária.
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