Cerca de 70 pessoas, entre produtores rurais, agentes de órgãos ambientas, representantes de associações de classe do setor rural, consultores e professores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), estiveram presentes na último sábado, 6 de abril, na Fazenda Liberdade, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, para conhecer durante Dia de campo os resultados da técnica do plantio direto de uma mistura de sementes nativas do Cerrado, também conhecida como muvuca.
A técnica reduz os custos da recuperação de áreas degradadas em relação ao tradicional plantio de mudas, já que utiliza o maquinário agrícola das próprias fazendas para recuperar grandes extensões de terra com espécies nativas. Enquanto a restauração pelo plantio tradicional de mudas custa em torno de R$ 12 a R$ 15 mil por hectare, o plantio com a técnica da muvuca sai por R$ 5 mil o hectare. Cerca de 135 hectares degradados em Áreas de Preservação Permanentes (APPs) já foram recuperados desde o ano passado em nove propriedades de Luís Eduardo Magalhães com esta técnica. A iniciativa faz parte da Campanha LEM APP 100% Legal, que tem a realização da prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, do Instituto Lina Galvani e da Conservação Internacional, com a parceria da Monsanto.
O produtor rural Vilson Gatto, proprietário da Fazenda Liberdade, onde foi feita a primeira experiência piloto da Campanha LEM APP 100% Legal, está bastante satisfeito com o apoio técnico oferecido na restauração da APP degradada de sua propriedade. “Já plantamos mais outro hectare com a muvuca e estamos monitorando o crescimento das espécies do Cerrado junto à equipe da Campanha LEM APP 100% Legal. Espero que fique melhor ou igual ao que era”, afirma. O público presente no Dia de Campo mostrou bastante interesse na nova técnica. A bióloga Tainá Rodrigues, da Religare Consultoria Ambiental, de Luís Eduardo Magalhães, acredita que a muvuca pode ser uma nova opção principalmente para os grandes proprietários da região. “O principal diferencial da muvuca é o envolvimento dos produtores ao utilizar o mesmo tipo de equipamento usado para o plantio de grãos como soja e milho. Em comparação com o plantio de mudas, a manutenção e o controle é mais fácil, pela inexistência de formigas e por não haver necessidade de irrigação durante o período seco”, destaca.
Durante o Dia de Campo, Paolo Sartorelli, da Baobá Consultoria Florestal, responsável por disseminar a técnica da muvuca pela região, explicou que os resultados neste primeiro momento são bastante satisfatórios. “Percebemos que houve uma redução das perdas das espécies, principalmente no período de estiagem, em relação ao plantio tradicional de mudas”, afirma. Para Georgina Cardinot, da Conservação Internacional (CI-Brasil), a muvuca transforma-se a partir de agora numa opção economicamente viável para os produtores rurais, além de fomentar uma nova cadeia econômica no município com a formação de uma rede de coletores de sementes nas comunidades rurais. Esta técnica pode ser empregada também por pequenos: já foi realizado o plantio em dois assentamentos do município de LEM.
Programação
Com o tema “Como superar o desafio da adequação socioambiental da propriedade”, Rodolfo Ribeiro, do Rabobank, também integrou as atividades do Dia de Campo, explicando como mitigar os riscos ambientais e trabalhistas em uma propriedade rural; Paolo Sartorelli, da Baobá Consultoria Florestal, discorreu sobre os resultados da técnica da muvuca no oeste da Bahia. Georgina Cardinot, da Conservação Internacional (CI-Brasil), e o prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Humberto Santa Cruz, pontuaram os impactos positivos da Campanha LEM APP 100% Legal, principalmente no que diz respeito à sensibilização dos proprietários e das comunidades rurais para a necessidade de conservação e recuperação das APPs.
Campanha LEM APP LEM 100% Legal
Com o apoio da Associação dos Irrigantes e Agricultores da Bahia (AIBA), Sindicato Rural dos Produtores Rurais de LEM e Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), a Campanha vem apoiando desde agosto de 2011 os produtores rurais de Luís Eduardo Magalhães que voluntariamente queiram restaurar suas APPs (como áreas de nascentes, às margens de rios e encostas) degradadas. Para reforçar a importância dessas áreas para a melhoria dos serviços ambientais, como qualidade de água e proteção dos solos, fauna e flora, a Campanha também mobiliza estudantes da rede pública de ensino com o Festival das Sementes, e uma rede de coletores de sementes nas comunidades tradicionais. As sementes coletadas são utilizadas na restauração de áreas degradadas que precisam ser recuperadas de acordo com a legislação ambiental, estimulando a valorização das espécies do Cerrado no oeste da Bahia.
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