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Hévila Oliveira Salles
03/02/2014
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O Brasil se caracteriza por ser um país essencialmente agrícola, sendo um dos maiores produtores mundiais de biomassa. Como consequência, um grande volume de resíduos orgânicos é gerado pela agroindústria, um total de 290.838.411 toneladas/ano segundo informação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (2011) do Ministério do Meio Ambiente.
O aproveitamento desses resíduos têm sido principalmente para a indústria de rações animais, para geração de energia e para adubação orgânica, quando não, são simplesmente descartados no meio ambiente, causando sérios danos ambientais.
Estes resíduos, no entanto, apresentam elevado potencial, são detentores de açúcares, vitaminas e sais minerais, ricos em fibras e outros compostos com propriedades funcionais como proteínas e metabólitos secundários, não explorados biotecnologicamente.
Inúmeros medicamentos estão com seus dias contados no mercado farmacêutico ou por terem desenvolvido resistência nos patógenos ou por não serem biodegradáveis, contaminando os produtos de origem animal, o homem e o meio ambiente.
Extrair de resíduos orgânicos agroindustriais moléculas bioativas pode possibilitar a valoração dos resíduos e subsidiar a produção de fármacos a um menor custo, diante da farta matéria prima. Em sequência a essa extração de compostos bioativos, o subproduto dessa extração ainda poderá ser direcionado para alimentação animal, geração de energia ou adubação, mas já com um valor agregado.
Um dos maiores entraves na produção de pequenos ruminantes é a verminose. O uso indiscriminado dos medicamentos de origem sintética tem contribuído para desenvolver a resistência dos vermes aos fármacos disponíveis no mercado, gerando a necessidade de novos princípios ativos e, se possível, de moléculas biodegradáveis. Uma alternativa foi a descoberta de moléculas de origem botânica com atividade anti-helmíntica. Mas essa linha tem esbarrado na disponibilidade de material vegetal para extração de princípios ativos em larga escala.
Buscando atender à demanda dos produtores de pequenos ruminantes, da indústria farmacêutica e da produção orgânica por anti-helmíticos eficazes no controle da verminose, de baixo custo de produção industrial e biodegradáveis é que se vem trabalhando na Embrapa Caprinos e Ovinos com resíduos orgânicos agroindustriais prospectando e identificando compostos bioativos. O projeto é financiado pelo Banco do Nordeste com recursos do FUNDECI e conta com a parceria da Universidade Estadual Vale do Acaraú e da Embrapa Semiárido. Estão sendo avaliados a torta de mamona e o bagaço (casca e semente) da uva da variedade Cabernet Sauvignon, subprodutos do processamento para a produção de biodisel e vinho, respectivamente. Já foram realizados ensaios in vitro os quais demostraram o alto potencial desses resíduos no controle dos vermes. Os compostos bioativos estão sendo isolados e caracterizados para uso em ensaios in vivo.
Vários outros resíduos poderão ser trabalhados no futuro e inúmeras são as possibilidades de aplicação biotecnológica das moléculas isoladas dos resíduos orgânicos agroindustriais.
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