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Marcelino Ribeiro, Embrapa Semiárido
09/11/2017
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Cinco anos de seca e a questão da segurança hídrica teve ampliada sua prioridade na agenda de desenvolvimento das áreas dependentes de chuva da região Nordeste. Deste modo que está posta em debate na Feira SemiáridoShow 2017, principalmente com a demonstração de tecnologias que aproveitam as várias fontes de água para uso no abastecimento das famílias, na dessedentação dos rebanhos e na agricultura.
Luiza Teixeira de Lima Brito, engenheira agrícola que tem coordenado pesquisas na Embrapa Semiárido sobre este assunto há mais de três décadas, considera o tema “obrigatório” e ponto de partida em qualquer iniciativa que tenha por fim a “convivência produtiva com o Semiárido”. Nada mais apropriado, portanto, o destaque que o tema tem na área de demonstração de tecnologias alternativas para captação e armazenamento de recursos hídricos da Feira.
Ameaça
A redução das precipitações, principalmente a partir de 2012, tem afetado de maneira radical as dinâmicas agrícolas de grande parte da região. Os cultivos alimentares (feijão, milho e mandioca) tradicionais registram baixas produções quando não perdas totais com frequência cada vez maior. “O problema se estende a cadeias produtivas importantes como a pecuária e põe pra baixo os índices do desenvolvimento econômico e social da região”, afirma.
A sétima edição a feira, iniciada nesta terça, 7, é mais um passo “coletivo” para fazer com que o tema avance nas agendas das instituições públicas, dos agricultores familiares e de suas organizações representativas. Nos dias de realização, o evento recepciona milhares deles vindos em comitivas de vários estados nordestinos, que se misturam a outros profissionais de profissionais de assistência técnica e extensão rural, gestores públicos, além de professores, estudantes e cidadãos.
“Esta reunião faz da feira um local de oportunidade para se construir soluções que sejam melhor apropriadas nas áreas pública e privada de melhor convivência com as condições de semiaridez”, argumenta a pesquisadora.
Alternativas
A insegurança hídrica que impede o plantio e a colheita repercute em outra insegurança não menos grave: a de falta de alimentos. As repetidas frustrações de safras de milho, feijão e mandioca afetam a disponibilidade de comida para uma população que, normalmente, já enfrenta as consequências de ingerir baixos índices de vitaminas. As médias de chuvas têm sido tão baixas que já ameaçam a sobrevivência de plantas nativas e animais silvestres. “É uma situação que ameaça à sobrevivência das famílias que vivem na região”, afirma Luiza Brito.
De acordo com ela, nos anos de 1980 a Embrapa Semiárido protagonizou essa temática em suas linhas de pesquisas e tinha como objetivo aumentar a disponibilidade de água no meio rural de forma descentralizada. Deste período, os resultados das pesquisas alinhados com a disseminação de experiências levadas a campo por organizações da sociedade civil resultaram em políticas públicas que já levaram a um amplo programa de implantação de mais de 1.300 mil cisternas instaladas, denominada de 1ª Água (P1MC) e mais outras 300 mil tecnologias de captação de água de chuva instaladas como cisterna, barreiro, barragem subterrânea, poço visam reduzir os riscos da irregularidade das chuvas – água de produção (P1+2).
Duas águas
Na feira área estão instalados algumas dessa opções tecnológicas. O sistema exposto na feira repete um semelhante ao que tem implantado na área de testes do Campo Experimental da Caatinga: cisterna calçadão com capacidade de armazenar mil litros integradas a um pequeno sistema simplificado de irrigação por gotejamento que consegue manter produtivos um pomar com cerca de 30 fruteiras. No ano de 2016, com um volume de chuvas de 370 milímetros - 74% da média histórica, foi possível colher de 642 kg de frutas cultivadas no pomar (acerola, pinha, limoeiro, mamoeiro, mangueira - Rosa e Espada). Em 2011, com 589,6 mm obteve-se uma produção de 1.426,0 kg de frutas.
“É mais que o bastante para uma família compor sua dieta com alimentos de boa qualidade nutricional”. Estes valores de produção representam, no mínimo, dois quilos de frutas por dia e por família, destaca Luiza.
A SemiáridoShow é um bom local para se conhecer o esforço feito pela Embrapa e instituições parceiras na geração de conhecimentos que sejam efetivos na melhoria da qualidade de vida e dos sistemas produtivos agropecuários. Segundo ela, é um empenho que vai de encontro ao que define a Organização das Nações Unidas (ONU) como segurança hídrica: "assegurar o acesso sustentável à água de qualidade, em quantidade adequada à manutenção dos meios de vida, do bem-estar humano e do desenvolvimento socioeconômico; garantir proteção contra a poluição hídrica e desastres relacionados à água; preservar os ecossistemas em um clima de paz e estabilidade política".
A este conceito, diz, devemos acrescentar aspectos sobre a temporalidade, ou seja, 'assegurar o acesso à água no momento adequado.
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