Às vezes em congressos com o tema em bioenergia existem pessoas que acreditam e palestrantes que passam a “imagem” que a Agricultura Brasileira somente não é livre dos recursos fósseis (petróleo, gás natural) por motivos políticos e econômicos, que facilmente nossa matriz energética agrícola pode ser substituída por biocombustíveis provenientes de biomassa e ainda suprir boa parte da demanda de energia nacional.
Se for pensado tal cenário somente em função da energia utilizada por máquinas e equipamento agrícolas, aquecimento e uma parte da geração de energia elétrica até pode ser possível face a enorme esforço e certamente com diminuição de área de produção de alimentos. No entanto estas pessoas e palestrantes normalmente esquecem de um fator. O Gás Natural! O gás natural é um recurso natural fóssil encontrado em reservas (na maioria em terras e águas estrangeiras) as vezes sozinho as vezes junto ao petróleo. Ele é uma mistura de gases provenientes de processos físico-químicos que ocorrem nas profundezas da terra, seu componente principal é o Metano. Muitos confundem o Gás Natural (Metano) com o Gás Liquefeito de Petróleo (Propano), ambos são muito utilizados no aquecimento de sistemas de ambiência em granjas e secadores de grãos.
Mas não é daí que vem a importância do gás natural na agricultura brasileira, este recurso fóssil é uma vedete pelo fato de ser a base para a produção de amônia anidra que é o bloco principal para a produção de todos os fertilizantes nitrogenados! Além de todos os agroquímicos que tenham o nitrogênio como átomo importante em suas moléculas. Fertilizantes importantíssimos para os atuais índices de produtividades tais como Uréia, Fosfato Diamônio, todos os que têm nitrogênio enfim, são essencialmente gás natural. Segundo Schnepf (2004) o gás natural representa 90% do custo de produção dos fertilizantes baseados no nitrogênio, 30% dos baseados em fósforo e 15% dos baseados em potassa.
Neste contexto é ilusão imaginar uma agricultura brasileira sem gás natural. Eis a importância de ações governamentais para suprir as necessidades nacionais de gás natural. O gasoduto Brasil-Bolívia não foi somente um “agrado” entre presidentes de esquerda, foi uma necessidade. As pesquisas da Petrobrás na área (prospecção e processamento) não são somente interesses econômicos, são também a sustentação da agricultura brasileira. Notem bem... eu escrevi sustentação... não sustentabilidade. Uma forma de se obter amônia sem se recorrer ao gás natural é através de processos físico-químicos que usam o ar atmosférico (78% é N), mas estes métodos não são sustentáveis, o balanço energético é negativo.
Entrando no mérito da sustentabilidade, programas de imenso sucesso técnico-econômico-ambiental, tais como o álcool etílico, o biodiesel e todas a biomassas energéticas são inegáveis nos avanços e benefícios para a sociedade e o ambiente, mas não se pode chegar ao cúmulo de as elevarem como salvadoras da pátria. Eis uma provocação: encontrarmos outra fonte de nitrogênio, talvez bactérias diazotrópicas, micorrizas, etc, se é possível produzir comercialmente biodíesel através de bactérias....por quê não amônia?? Eis um desafio...
Bibliografia:
Schnepf, R. Energy use in agriculture: background and issues. The Library of Congress, 2004.
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