Conforme o artigo anterior, a grande contradição da agricultura brasileira: de ser campeã mundial na produção de agroenergia, “energia limpa”, mas ao mesmo tempo ter mais da metade de seu consumo energético baseado em “energia fóssil” é devido à preponderância da utilização de máquinas agrícolas que tem como fonte de potência motores movidos a diesel, além dos fertilizantes nitrogenados que demandam matérias primas fósseis para serem obtidos ou produzidos. Devido à extensão do tema, vou me ater neste artigo somente no contexto das máquinas agrícolas, e no próximo e ultimo artigo desta série basearei a discussão sobre os fertilizantes nitrogenados.
Sem querer polemizar nem filosofar, sendo estritamente objetivo, todas as questões sobre energia e agroenergia estão atreladas a considerações econômicas, simplificando, tudo é relacionado ao $dinheiro$ e como a quantidade de energia envolvida e necessária para manutenção do “status quo” atual (capitalismo) é imensa, muito dinheiro está envolvido.
Não se deve analisar a contradição energética levantada na agricultura brasileira somente de um ponto de vista utópico e sonhador, ou rebelde e adepto das “teorias da conspiração”. Não existem “bandidos” nem “mocinhos” nesta questão, e a postura “xiita” e pouco racional, às vezes até suicida de certos grupos ambientalistas somente deixa mais complexo o problema. O núcleo da discussão deve ser contextualizado nas ocorrências históricas, sociológicas e técnicas da humanidade. Pois se hoje somos “escravos” do petróleo, fatos e coincidências ocorreram, assim como articulações e sabotagens também. Mas sempre, sempre o principal parâmetro para a decisão foi a questão econômica! Até pode-se argumentar que assuntos ideológicos, políticos e até religiosos influenciaram na situação atual, mas todos estes assuntos, em ultima análise, sem exceção, fincam suas ações na geração ou não de lucro.
Um produtor de cana-de-açúcar e uma usina de cana-de-açúcar que produz álcool, não são sonhadores que querem diminuir as emissões de carbono para amenizar o efeito estufa, ele é um empresário que visa lucro, assim como a usina que compra sua produção! Se ficar na “moda” (dar mais lucro), plantar milho para produzir álcool, não tenha dúvida que o Estado de São Paulo vai se tornar um dos maiores produtores de milho do Brasil, assim como as usinas de “cana” se tornarão usinas de “milho” em pouco tempo. Pouco importa, a bem da verdade, se o milho é menos eficiente do que a cana para produzir álcool, o que importa é o lucro. Este é o mesmo argumento pelo qual os EUA e a China nunca ratificam qualquer protocolo ambiental, já que suas economias são baseado em fontes de energia altamente poluidores e consumidoras de combustíveis fósseis. O interessante é que qualquer manifestação das grandes “corporações ambientalistas” internacionais – aquelas que fazem propaganda no horário nobre da TV- contra os devoradores de petróleo do norte e oriente, é sempre pífia e medíocre, mas para atacar nossos agricultores são ferozes e ferrenhos!! Talvez as “teorias de conspiração” sejam mais do lado destas grandes “corporações ambientalistas” que tem seguidores no mundo todo, mas que nunca conseguem explicar de onde vêm tantos recursos para propaganda... enquanto ONGs ambientalistas nacionais, sérias e justas morrem a míngua...
Exemplo clássico de suporte de meus argumentos é o caso dos motores de combustão interna acionados por combustível fóssil. Existe um livro que eu recomendo para leitura a todo aquele que quer entender o porquê dos motores queimarem produtos advindos do petróleo, nos carros e nas máquinas agrícolas. O nome do Livro é Internal Combustion, do jornalista Edwin Black, este livro foi indicado para o prêmio Pulitzer, prêmio máximo do jornalismo. Neste livro o autor começa descrevendo que entre 1840 e a virada do século XX!! 90% dos automóveis de NY eram movidos à eletricidade. No entanto, naquele tempo os automóveis elétricos eram monopólio de uma empresa chamada EVC. Esta empresa era muito poderosa, e queria impedir que outras indústrias produzissem carros movidos a gasolina... até parece uma história atual, mas com outros atores, não acham? Bem o que aconteceu? A EVC fez uma análise de mercado (outra vez lucro!!) e descobriu que os homens gostavam mais de carros barulhentos!! Coincidência ou não, eram os carros a gasolina os mais barulhentos, e havia uma postura machista de que os carros silenciosos (os elétricos) eram “coisa de mulher”. Como os homens naquele tempo compravam mais carros que as mulheres, a EVC resolveu se unir às indústrias de carros a gasolina e formou-se um super-monopólio!! Neste ponto da história, com a preponderância de carros movidos a gasolina, outro tipo de indústria se fortaleceu, a indústria do petróleo!!! Que hoje é mais poderosa do que a própria indústria automobilística.
Uma curiosidade daquela época: o famoso Ford Modelo T, o primeiro carro realmente acessível à população, inicialmente foi projetado para se movido à gasolina e álcool!!! Ou seja, em 1908 já havia o carro Flex!!!
Somente discordo do autor deste livro, no aspecto que ele coloca a culpa toda nos lobistas, ou seja, um tipo de “teoria da conspiração”, quando na verdade estes somente estão defendendo o lucro de seus clientes, eis o X da questão, o LUCRO, a culpa não é dos lobistas ou das empresas, a culpa é do sistema econômico! Que visa somente o lucro, sem escrúpulos. No entanto existem ares de mudanças...
Existe uma consciência cada vez maior das pessoas, pelo mundo todo, de que se não cuidarmos do ambiente, o ambiente deixará de cuidar de nós. Já existem muitas leis e pressão popular para que haja uma diminuição do consumo de energia (energia como um todo, não somente do petróleo), assim novas “velhas” tecnologias (carro elétrico) finalmente começam a se tornar acessíveis outra vez, programas de diminuição ou pelo menos de racionalização de consumo (consumo geral!) são implementados. Enfim... pode-se escolher a visão otimista ou a pessimista, e novamente acho interessante que as grandes “corporações” ambientalistas internacionais (aquelas da TV) sempre vejam tudo sobre a égide do apocalipse.
As máquinas agrícolas hoje são
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