O nobre colega Gumercindo Fernandes em seu comentário no artigo anterior acertou em cheio minha linha argumentativa. A contradição na agricultura brasileira de que a mesma tenha uma matriz de consumo energética pouco renovável, embora produza agroenergia, ocorre devido ao consumo de combustíveis fósseis em máquinas e em fertilizantes. Para direcionar a discussão é interessante uma análise dos fluxos de energia da agricultura, Figura 1.
Figura 1. Fluxos de energia na agricultura, Precci Lopes (2010)
Pela Figura 1, percebe-se que todo o fluxo energético na agricultura tem um encaminhamento convergente em direção aos “insumos” que são produzidos “antes da porteira” e são convertidos pelo setor rural em “produtos” necessários à sociedade “depois da porteira”. Em cada setor desta figura há um dispêndio de energia para a realização dos processos e ativação dos sistemas e conseqüentemente uma conversão energética que subentende uma eficiência, que pela segunda lei da termodinâmica é sempre menor do que 1, ou seja “perdemos” energia. No fulcro deste sistema, o setor rural, a maior parcela do consumo energético é referente a utilização de máquinas agrícolas e fertilizantes, Figura 2, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, caso do Brasil.
Figura 2. Distribuição do consumo de energia nas diversas etapas da produção agrícola, Precci Lopes (2010), adaptação do autor.
Pela Figura 2, observa-se que as duas maiores parcelas do dispêndio de energia são o preparo de solo (operação mecanizada) e os fertilizantes, mesmo no Sistema Plantio Direto de soja e milho, em que o preparo de solo é praticamente eliminado, o consumo de energia ocasionado pelas operações mecanizadas ainda é preponderante. Cabe lembrar que na etapa “fertilizantes” e “combate a pragas” parcela significativa da energia gasta se refere a sistemas mecanizados para distribuição de fertilizantes e aplicação de produtos fitosanitários. Como atualmente os motores de combustão interna movidos a diesel (combustível fóssil) são hegemônicos nas máquinas agrícolas, tem-se parte da explicação da contradição levantada.
Mas outro aspecto muito importante nesta contradição e recorrente na agricultura brasileira é que quase a totalidade dos fertilizantes nitrogenados e produtos fitosanitários utilizados no Brasil: ou são inteiramente provenientes de matérias primas fósseis (petróleo e gás natural); ou sua obtenção através de processos físico-químicos a partir do nitrogênio atmosférico necessita de enormes quantidades de energia, que é provida essencialmente por combustíveis fósseis!
No entanto as coisas poderiam ser de outra forma...mas isto é assunto para o próximo artigo desta série.
Bibliografia:
PRECCI LOPES, R. Energia na Agricultura. Disponível em http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/labmen/ensino.htm, acessado em 07/07/2010.
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