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Pesquisa    
Pesquisa desenvolve bioinseticida contra larva do mosquito da dengue
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Fernanda Diniz, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
31/05/2017

A empresa Strike, de Alagoas, e a Embrapa desenvolveram inseticida biológico que ataca especificamente larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zica, chikungunya e febre-amarela. Criado a partir da bactéria Bti (Bacillus thuringiensis israelensis), o produto é inofensivo aos demais seres vivos e não agride o meio ambiente. Outra característica importante do novo bioinseticida é sua resistência a altas temperaturas e aos raios ultravioletas (UV) do sol, o que o torna ideal para ser usado sob o clima tropical brasileiro.

Em fase final de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o STRIKE Bio-BTI, como foi chamado, poderá ser vendido diretamente ao consumidor em supermercados, floriculturas e outras lojas do ramo, graças a uma recente mudança na regulamentação da Agência, voltada ao registro de saneantes. Antes, a venda desse tipo de produto era restrita a empresas especializadas ou para campanhas de saúde pública.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Rose Monnerat, que participou do desenvolvimento do bioinseticida, a eficiência é similar a dos produtos anteriores, porém este poderá ser usado em água de consumo humano. Com apenas uma gota para cada litro de água, o novo bioinseticida é capaz de matar as larvas do mosquito nos criadouros.

O produto será comercializado em três formatos: galão de um litro, frascos de 30 ml e de 500 ml com borrifador. Este último é específico para aplicação direta em plantas. A cientista explica que o produto deve ser aplicado em locais nos quais o inseto se reproduz, como, por exemplo, caixas d’água, vasos de plantas, aquários, espelhos d’água, entre outros locais que acumulam água.

Velha conhecida da pesquisa agropecuária, a bactéria utilizada na formulação do bioinseticida é específica para só atacar as larvas do Aedes aegypti, por isso é inofensiva aos outros seres vivos. Esse microrganismo é usado em programas de controle biológico em todo o mundo há mais de quatro décadas e nunca houve registros de casos de intoxicação humana ou de resistência da praga-alvo. Seu uso é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em campanhas de controle de combate a insetos transmissores de doenças, até mesmo com aplicação na água destinada ao consumo humano.

Desenvolvimento
Os pesquisadores coletam essas bactérias em solo brasileiro e, depois, fazem análises toxicológicas no laboratório para avaliar seu potencial patogênico contra os insetos. As cepas (variedades) da bactéria utilizadas na formulação dos produtos são oriundas do banco de bactérias mantido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, que hoje conta com mais de 2.800 estirpes. Segundo a pesquisadora, esse banco é um manancial genético à disposição da ciência, não apenas para desenvolvimento de inseticidas biológicos, mas também como fontes de outras informações em prol do controle biológico no Brasil. “Uma das pesquisas que estamos investindo atualmente é no sequenciamento dos genomas das estirpes de bactérias que compõem o banco. Já temos 13 sequenciadas, com mais de 70 genes identificados. Nossa meta é sequenciar as 2.800”, ressalta.

O Laboratório de Bactérias Entomopatogênicas (LBE), no qual esses estudos são desenvolvidos, é o único da Embrapa acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para condução de ensaios biológicos. Isso dá ao laboratório credibilidade para prestar serviço a empresas públicas e privadas do Brasil e do exterior parceiras ou não.

Foco na sustentabilidade
Segundo o diretor industrial da Strike, Carlos Eduardo Guañabens, o foco do desenvolvimento foi a sustentabilidade, o que despertou o interesse da empresa por produtos biológicos em substituição dos químicos. O executivo explica que a demanda inicial por um inseticida veio de clientes, especialmente os do setor hoteleiro, que reclamavam muito da incidência de mosquitos. Além disso, a empresa está localizada em um dos bairros da capital alagoana com maior incidência do mosquito.

Guañabens acredita que o produto atenderá bem a diversas regiões brasileiras, em especial ao Nordeste. “A região Nordeste é marcada por uma heterogeneidade social muito forte. Ao mesmo tempo que várias cidades litorâneas estão no topo do ranking dos polos turísticos do País, a população do interior vive em condições precárias”, destaca o empresário.

Ele explica que a forte seca à qual a região é constantemente submetida faz com que muitas pessoas não tampem as caixas d’agua a fim de captar água da chuva, situação extremamente favorável à proliferação do mosquito. O somatório dessas questões levou o empresário a ampliar o escopo de atuação da Strike para o mercado de produtos biológicos.

“Quando comecei a buscar soluções, conheci a expertise da Embrapa, mais especificamente da pesquisadora Rose Monnerat, que já havia desenvolvido dois produtos para controle do mosquito da dengue, além de pesticidas biológicos para controlar lagartas”, conta Carlos Eduardo Guañabens. O interesse mútuo motivou o trabalho conjunto, formalizado por meio de um contrato de cooperação técnica, e as duas equipes começaram a atuar no desenvolvimento do STRIKE Bio-BTI.

Em breve no mercado
Assim que obtiver o registro, Carlos Eduardo Guañabens pretende propor parcerias com a cadeia produtiva da iniciativa privada e envolver também Secretarias de Saúde, Turismo, Educação e Meio ambiente do Estado de Alagoas e de outros estados para utilização do produto em larga escala. Em princípio, a Strike tem capacidade de produzir dez mil litros por mês, número que poderá ser aumentado dependendo da demanda de mercado.

Outro mosquito já está na mira da cooperação
Enquanto aguardam o registro do STRIKE Bio-BTI, as instituições investem no desenvolvimento de um outro inseticida biológico contra o mosquito urbano ou pernilongo (Culex quinquefasciatus), baseado no mesmo princípio tecnológico do Strike Bio-BTI.

“Produtos biológicos ocupam hoje cerca de 2% do mercado de agroquímicos no mundo, mas a tendência é de grande crescimento, cerca de 15% para os próximos anos”, explica a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A expansão desse segmento acompanha o crescimento do mercado de produtos naturais, especialmente no Brasil, que é atualmente o quinto maior mercado do setor de alimentos e bebidas saudáveis. Carlos Eduardo Guañabens acredita que o País vai receber bem o novo bioinseticida, pois, além de eficaz, é de fácil utilização, o que atenderá a todas as classes sociais.

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