Ao contrário do sistema convencional de cultivo, onde há frequentes aumentos do uso de fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas para se obter altas produtividades, o “Conceito de Cultivo Racional ou Sustentável” visa construir a fertilidade e a biologia do solo. Este conceito parte da premissa de que um solo com manejo inadequado e desequilibrado quimicamente não é capaz de manter as plantas sadias e produtivas; por isso, envolve práticas que cuidam do solo antes de cuidar da planta. A atividade biológica do solo inclui todas as reações metabólicas celulares, suas interações e seus processos bioquímicos mediados ou conduzidos pelos organismos do solo. Assim, para uma sustentabilidade de cultivos é imprescindível a ativação biológica do solo através de várias medidas e,ou práticas de manejo que proporcionem condição ótima para que haja vida no solo. Entre estas medidas e manejos, é obrigatório inserir no sistema um componente orgânico, sem o qual não consegue manter microrganismos no sistema. Este componente orgânico tem o objetivo de incrementar a matéria orgânica e pode ser alcançada pela adoção de práticas como permanência de cobertura morta no solo, incorporação de restos de culturas ou de resíduos orgânicos, roçagem nas entrelinhas, rotação de culturas, e até uso de adubos orgânicos ou organominerais.
Atualmente existem inúmeros produtos fertilizantes à base de enzimas, aminoácidos e ácidos orgânicos que substituem com vantagem os fertilizantes químicos convencionais. Estes produtos contribuem para a bioativação do solo mantendo o sistema em equilíbrio. Outras opções como uso de algas, de argilas energizadas, controle biológico de pragas e doenças, agricultura de precisão, etc, devem fazer parte do planejamento do cultivo sustentável para manter o equilíbrio do sistema produtivo.
Como sabemos, o solo é um sistema complexo e vivo, com as fases sólida, líquida e gasosa em constante movimentação e interação física, química e biológica. Fisicamente, podemos compará-lo a uma esponja, contendo uma infinidade de canais que se intercomunicam em todas as direções. Práticas de manejo que compactam o solo interrompem trocas gasosas e a comunicação entre as fases. Quimicamente, trata-se de verdadeira "sopa de nutrientes" acrescida de inúmeras outras substâncias de naturezas diversas, orgânicas ou não, ocorrendo reações entre elas. As plantas estão inseridas no solo através do seu sistema radicular e tanto retiram quanto devolvem substâncias para ele. O desequilíbrio químico torna pouco eficiente as trocas entre o sistema radicular, que é a boca da planta e seu alimento, aquilo que estamos chamando “sopa de nutrientes”. E o metabolismo da planta fica reduzido e baixos rendimentos são obtidos. Biologicamente, o solo é composto pela diversidade e quantidade de organismos vivos que compõem a macro, meso e microfauna, além dos microrganismos. A macro, meso e microfauna comparecem com as minhocas, besouros, formigas, cupins, nematóides, ácaros e outros, realizando o trabalho "pesado" na transformação dos restos de cultura (decomposição da matéria orgânica). Por fim, e em número muito superior, encontram-se os integrantes de menor tamanho individual, representados pelos milhares de tipos de fungos e de bactérias. Esses microrganismos, invisíveis a olho nu, são os verdadeiros "maestros" de toda a "orquestra" existente bem debaixo dos nossos pés, tocando a "música da vida" na Terra. Regendo a decomposição e mineralização da matéria orgânica, reagindo com os compostos inorgânicos ou produzindo compostos metabólicos, os microrganismos do solo são os responsáveis pela manutenção da vida no Planeta, atuando diretamente nos ciclos vitais de nutrientes. Os microrganismos ocupam menos de 5% do espaço poroso do solo, e a ocorrência de um microrganismo em determinado solo é a expressão de sua reação às condições ambientais.
A Bioativação ou Ativação Biológica nada mais é do que praticar uma agricultura que leve toda essa realidade em consideração. Ou seja, os diversos manejos e insumos utilizados em uma plantação devem ser escolhidos e direcionados para a proteção e o incremento da vida e do trabalho dos microrganismos, de modo que o solo seja revitalizado e esteja pronto para receber as plantas dando a elas as melhores condições de desenvolvimento. A ativação biológica de lavouras diminui os custos de produção, priorizando o trabalho dos microrganismos e minimizando a necessidade de insumos externos. Além disso, promove uma agricultura mais equilibrada e sustentável, contribuindo para a limpeza e descontaminação do solo, da água e dos alimentos.
Portanto é dever de todos nós, técnicos e produtores, incentivar ações nessa área, para que não tiremos das futuras gerações o direito a uma vida estável e com qualidade.
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