Dentre os componentes do solo, devemos dar destaque à matéria orgânica, pois esta governa a maior parte das atividades que ocorrem no solo. Para se desenvolver um sistema de cultivo racional, o ponto de partida sempre deve ser a matéria orgânica do solo, pois esta pode ser considerada como se fosse a “caixa preta” do solo. Mas o teor apenas não diz muita coisa; há que saber que tipo de matéria orgânica se tem, qual seu estádio de mineralização, qual a composição desta matéria orgânica, etc. Estes dados não são fornecidos pelos laboratórios de análises e grande parte dos agrônomos que cuidam do solo dão pouca ou nenhuma importância a eles. A matéria orgânica é como se fosse uma “caixinha” que, ao clicar nela, abrem um monte de alternativas que podem explicar a eficiência de determinado manejo em relação a outro. Atualmente, se consegue com dificuldade explicar a maior eficiência de fertilizantes alternativos contendo ácidos orgânicos, aminoácidos, enzimas, porque pouco se conhece da dinâmica na matéria orgânica no solo, ou porque se dá pouca importância a ela.
Quando encontramos agricultores mais esclarecidos e preocupados com cultivo racional, sem degradar o solo e o ambiente, ainda vemos algumas atrocidades. Ele passa anos recuperando a parte biológica do solo, aumentando a matéria orgânica, e depois vem com veneno para controlar uma doença ou uma praga. O controle químico de pragas de solo elimina os microrganismos que com manejo alternativo se conseguiu aumentar. Aí, o que acontece com os microrganismos colocados ali com muito empenho? Morrem. Então seu sistema de cultivo é racional? Claro que não, no máximo é semi-racional. Portanto, não tem como aliar os dois tipos de cultivo, pois todas as práticas têm que interagir entre si contribuindo para o sucesso do sistema de cultivo. Tem que apresentar sinergia e não antagonismo.
Da mesma forma, como o controle químico, adubo químico em excesso altera a população microbiana. Neste aspecto, vale lembrar que o microrganismo não é contra o adubo químico; ele até gosta de adubo químico, mas de uma quantidade que não o torna preguiçoso. Uma quantidade pequena de adubo químico faz bem pra ele, o que não se deve fazer é saturar o solo, torná-lo salinizado pela quantidade de fertilizantes. Vê-se claramente que a população de um solo adubado com pouco adubo (ou que recebeu baixa calagem) é consideravelmente maior que aquela de um solo pobre, improdutivo ou de um solo totalmente desequilibrado nutricionalmente. Mas o uso contínuo só do adubo químico vai esterilizando o solo, porque começa eliminar gradativamente os microrganismos do solo. Então, ao se substituir, por exemplo, os 400 ou 500 quilos por hectare de ureia por uma fonte alternativa de nitrogênio, contendo ácidos orgânicos, aminoácidos, enzimas, além de aumentar a população microbiana, aumenta a matéria orgânica e a eficiência de absorção dos nutrientes, além de reduzir as perdas.
Portanto, cultivo racional não é obter maior produção, assim como, alta tecnologia não quer dizer usar mais adubo. Cultivo racional é produzir ecologicamente a maior produção sem degradar a matéria orgânica do solo e os microrganismos, com pouco adubo químico e sem agrotóxicos. Cultivar racionalmente não é adotar “altas tecnologias” com “pacotes” contendo grandes quantidades de adubos e venenos. É adotar um “conceito” de tecnologia, eliminando-se o excesso de químicos e agrotóxicos, contribuindo para aumentar a microbiota do solo.
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