O Censo Varietal, desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC), identificou quais são as variedades de cana cultivadas em 6,1 milhões de hectares na região Centro-Sul do Brasil e recenseou outros 517 mil hectares que serão plantados em 2017. O Censo Varietal IAC, feito pelo Programa Cana IAC, é o maior censo de variedades de cana-de-açúcar do Brasil.
O resultado mostrou que a variedade predominante na região Centro-Sul, especialmente no Paraná e Mato Grosso do Sul, é a RB867515, lançada no final da década de 90 e desenvolvida, portanto, no período pré-mecanização de colheita e de plantio. A variedade, desenvolvida pela Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), ocupa 27% da área recenseada.
O censo mostrou também que conforme novas variedades estão sendo incorporadas, a RB867515 vem perdendo concentração, o que significa que a diversificação genética e materiais mais modernos estão entrando nos campos. A área plantada com a RB867515 apresenta queda de 11%. A segunda mais cultivada e colhida, a RB966928, também da Ridesa, reúne 9% da área no Centro-Sul e teve 4% do aumento do plantio durante o levantamento, feito pelo IAC entre maio e novembro de 2016.
As regiões do Oeste Paulista, Paraná e Mato Grosso têm as maiores concentrações de variedades.Em Araçatuba, interior do Estado de São Paulo, a RB867515 ocupa 35,9% dos 859 mil hectares recenseados. No Paraná, a concentração desta variedade é de 44,3% do total de 554 mil hectares. Dos 134 mil hectares avaliados no Mato Grosso, a região com maior concentração de cultivo, 49,8% desta área são plantados com a RB867515.
O Censo Varietal IAC, feito pelo Programa Cana IAC, levantou também a intenção de plantio para 2017 em 517 mil hectares que serão instalados no próximo ano. O trabalho representa uma prestação de serviço ao setor sucroenergético brasileiro, possibilitando adoção de estratégias que ampliem, por exemplo, a segurança biológica em áreas canavieiras. O objetivo é mostrar os riscos fitossanitários existentes na concentração varietal e também estimular os produtores a adotarem novas tecnologias varietais de maneira mais dinâmica.
Na avaliação do pesquisador e líder do Programa Cana IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, a boa notícia é que esta concentração cria uma situação de oportunidade para o setor, pois significa que um salto de produtividade está por vir, na medida em que variedades mais modernas e mais produtivas forem adotadas. “Trata-se de oportunidade para os programas de melhoramento”, ponderou.
O secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, ressaltou o papel do censo em promover no setor sucroenergético uma reflexão e a percepção sobre a própria situação. Arnaldo Jardim destacou que o IAC tem atuado para identificar as oportunidades de ganhos para o setor.
De acordo com Landell, estudos indicam que as variedades mais modernas produzem mais por hectare - em torno de 15 toneladas. “O produtor está perdendo oportunidade de incorporar uma variedade moderna; identificar opções para incrementar a produtividade significa caminhar em direção à cana de três dígitos”, afirmou o pesquisador, referindo-se aos materiais que possam produzir a partir de 100 toneladas por hectare.
As regiões de Ribeirão Preto e Piracicaba, no interior paulista, apresentam maior diversidade genética em suas áreas de cultivo e o mesmo comportamento é previsto nestas localidades para o próximo ano, nas novas áreas a serem instaladas.
Diversidade para o próximo plantio
Considerando o censo sobre a intenção de plantio para o próximo ano, as áreas de Ribeirão Preto, Piracicaba e de Goiás têm boa condição de diversidade genética. Dos 51 mil hectares recenseados em Ribeirão Preto, a variedade CTC4, desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira, deverá ocupar 10,8%, a RB 855156, 10,4%, a RB966928, 10,1%, a IAC91-1099, 4,4% e a IACSP95- 5000, 2,8%.
Na análise de Landell, o fato de os dois municípios paulistas contarem com dois centros de pesquisa — respectivamente, o IAC e o CTC — acabam por influenciar no perfil dos canaviais. O interior paulista também conta com a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), ligada à Ridesa. “Os grandes centros de melhoramento impactam positivamente na adoção de novas variedades”, disse.
Na intenção de plantio para 2017, especialmente na região Centro Sul, o censo apontou que a RB 867515 se destacou com 16,6% da intenção de plantio. Este índice é menor do que em anos anteriores, quando chegou a 25%. A CTC4 tem 11,4% das intenções, a IACSP95- 5000 tem 2,7% e a IAC91-1099, 2,6%.
A IAC91-1099 tem 10,8% da intenção de plantio em Goiás, Mato Grosso e Tocantins; 4,4% em Ribeirão Preto e 4% em Minas Gerais e Espírito Santo. A IACSP95-5094 aparece na intenção de plantio em 3,6% da área de Jaú, interior paulista, e de 2,4% de Goiás, Mato Grosso e Tocantins. Considerando toda a área destes três Estados, no total de 45 mil hectares, as intenções para o próximo ano são: 16% para a RB 867515, 16,2% para a CTC4 e 10,8% para a IAC91-1099, o que revela maior diversidade.
No Estado de São Paulo, a RB 966928 aparece com 15,2% das intenções de plantio e a CTC4, 11,9%. A IACSP95- 5000 tem 2,8% e a IAC91-1099, 1,9% das intenções. A IACSP95-5000 deverá ser plantada em 10,2% da área de Piracicaba e em 2,8%, na de Ribeirão Preto.
A queda na intenção de plantio da variedade mais plantada é explicada pelo aumento do interesse de cultivar materiais mais modernos. As variedades CTC tiveram incremento na intenção de plantio, que passou de 23,2% para 27,3%. As variedades IAC apresentaram aumento na intenção de plantio, passando de 5,4%, em 2015/16, para 7,4%, em 2016/17. Isso significa um salto de 37% na intenção de plantio de variedades do Instituto Agronômico. Atualmente, 3% das variedades cultivadas no Centro Sul são IAC. As variedades do IAC têm maior presença no Estado de Goiás, onde o Instituto tem forte atuação desde 1995.
Com base nas informações do Censo, o IAC avaliou as empresas participantes e ofereceu o Prêmio Excelência no uso de variedades de cana-de-açúcar no Centro-Sul. O Programa Cana IAC analisou dois indicadores: o Índice de Concentração Varietal (ICV) e o Índice de Atualização Varietal (IAV), que aponta se a variedade plantada é mais ou menos moderna. O primeiro lugar foi conquistado pela Usina Santa Maria do Grupo J.Pilon, de Cerquilho, interior paulista.
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