A pobreza não é um problema só da cidade. No campo, onde se produzem alimentos, contraditoriamente há famílias que passam fome e todo tipo de necessidade. Um levantamento da Epagri em parceria com a assistência social dos municípios revelou que cerca de 3 mil famílias de agricultores, indígenas e quilombolas vivem no meio rural do Estado com renda per capita inferior a R$77 por mês.
Voltado para esse público, o Programa Brasil Sem Miséria, do Governo Federal, busca promover a inclusão produtiva rural de quem vive em situação de extrema pobreza, gerando renda e melhorando a segurança alimentar e nutricional. Para apoiar a implantação do programa em Santa Catarina, a Epagri atuou na busca, na seleção e no cadastro das famílias beneficiadas em cada município. Em 2016, cadastrou 1.017 famílias em 160 municípios.
A etapa seguinte foi realizar diagnósticos e desenvolver projetos produtivos para cada propriedade. Esses projetos priorizam a produção de alimentos, primeiro para garantir a subsistência familiar e, depois, permitir a venda de excedentes e gerar renda. Horta, pomar, lavouras de grãos e criação de pequenos animais correspondem à maioria das iniciativas no Estado.
Com o projeto aprovado, cada família recebe R$2.400 para implantá-lo com o acompanhamento dos extensionistas da Epagri. Em 2016, 663 famílias do Estado receberam o apoio, somando R$1.591.200 em repasses do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário.
A tarefa, agora, é ajudar os beneficiados a implantar as atividades produtivas e garantir que esse esforço transforme a vida das famílias. Ampliando ainda mais o alcance do trabalho, a Epagri se envolve em outras ações nas áreas social, ambiental e econômica, como apoio para obtenção de documentos, inclusão no Programa Bolsa Família e em programas institucionais de aquisição de alimentos e melhoria das condições de saneamento básico.
Muito mais do que carne, ovos e leite
Maria Angelita da Silva e João Ademir dos Santos vivem como posseiros em uma área de conflito de terra no município de Frei Rogério. João ficou sabendo do Programa Brasil Sem Miséria por uma vizinha que já estava cadastrada e, então, procurou a Epagri para ver se também conseguia essa oportunidade. “Primeiro eu comprei uma galinha da dona Vilma e falei pra minha mulher: olha, essa galinha tem gosto. Eu quero um galinheiro e uma terneira. Vamos ver com a Epagri se dá”, revela João.
A equipe da Epagri visitou o casal e conheceu a realidade da família. Fez um diagnóstico da situação e, com a participação de Maria Angelita e João, elaborou um plano de desenvolvimento para melhorar a qualidade da alimentação e a renda da família. Em conjunto, eles definiram que os R$2.400 seriam investidos na criação de galinhas e na compra de uma novilha para produzir leite.
O dinheiro chegou e, com ele, o casal construiu um galinheiro, comprou os pintos e também a novilha. Eles já produziam mandioca, milho, hortaliças e feijão, tudo sem agrotóxicos. “Estou muito feliz porque realizei o sonho de ter um galinheiro e uma terneira, que era tudo o que eu queria”, conta João. Maria Angelita completa: “Estamos realizados. Ele fica o dia adorando as galinhas e a terneira.”
Além de melhorar a alimentação da família, os animais podem, aos poucos, gerar renda com a venda de galinhas e ovos. Mas a maior conquista – resgate da autoestima, saúde e qualidade de vida – ninguém consegue calcular.
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