Agricultores quilombolas estão utilizando a internet para comercializar a produção, gerar renda, incentivar o protagonismo dos trabalhadores rurais nos meios digitais e dar visibilidade às tradições de 15 comunidades remanescentes de quilombolas do Norte e do Noroeste do estado do Rio de Janeiro.
Através do site da Rede Produtiva Quilombola eles fecharam contratos para o fornecimento de gêneros comercializados em redes de supermercados; venderam seus produtos, conquistaram clientes individuais em grandes cidades e despertaram a atenção de potenciais compradores públicos interessados nas verduras, frutas, hortaliças e produtos de origem animal com a marca de qualidade quilombola.
O site da Rede Produtiva Quilombola foi criado pelo Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense (IDANNF), e pelo colegiado de agricultores quilombolas, devido a necessidade de oferecer aos pequenos produtores alternativos, canais tradicionais de venda, como as feiras municipais e os entrepostos regionais de comercialização.
Reativado há pouco mais de dois meses, o site da Rede Produtiva Quilombola (criado em 2016) é administrado por jovens das próprias comunidades tradicionais e conta atualmente, com mais de 30 produtos disponíveis para compra imediata, dentre um total de mais de 120 catalogados.
Quem quiser comprar através da página digital e receber em casa os produtos da agricultura familiar quilombola deve entrar no endereço da Rede Produtiva Quilombola e abrir uma conta, o que permitirá acessar os catálogos de produtos e fazer os pedidos, além de acessar o histórico de transações realizadas, dentre outras opções de navegação.
O pagamento das compras é feito por meio de depósito bancário, transferência eletrônica ou ordem de crédito e os produtos são entregues diretamente no endereço do comprador.
“Quando o comprador reside em alguma comunidade ou centro urbano próximo, o próprio produtor faz a entrega na casa do cliente. Quando a distância é um pouco maior é contratado um serviço de transporte para a entrega”, explicou a coordenadora do Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense (IDANNF) e representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Lucimara Muniz.
Sustentabilidade
Do leite fresco aos queijos da roça, do aipim à pimenta, passando por variedades de abóboras, feijões, alfaces e outros gêneros alimentícios, todos os itens vendidos pelo site são produzidos de modo agroecológico, sem utilização de agrotóxicos e sem causar danos ao meio ambiente.
"Esse é o diferencial de qualidade da Rede Produtiva. Os produtos são cultivados sem a utilização de qualquer tipo de química, conforme a tradição ancestral dos quilombolas", assegurou a coordenadora do IDANNF.
Vários itens disponíveis no site possuem o Selo Quilombos do Brasil – associado ao Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf) – que atesta que os produtos são originários da agricultura familiar praticada em territórios quilombolas reconhecidos.
“O modo sustentável de produção os torna mais saudáveis e nutricionalmente mais ricos. Isso atraiu uma grande procura nos primeiros meses de funcionamento do site, com mais de cinco mil acessos, o que causou algumas dificuldades em seu funcionamento. Por isso, o site teve que ser reformulado para garantir uma navegação segura e rápida aos clientes”, disse Lucimara.
Em pouco tempo a visibilidade ofertada pelo site, aliada a um intenso trabalho de divulgação da marca da Rede Produtiva Quilombola, vem chamando a atenção de potenciais consumidores. Duas redes de supermercados dos municípios de Campos dos Goytacazes e São Fidélis já estão comprando legumes, verduras e hortaliças da Rede Produtiva Quilombola.
“O fornecimento aos supermercados tem proporcionado uma renda entre R$ 8 mil e R$ 9 mil mensais. Esses valores são partilhados entre os agricultores quilombolas, conforme a participação de cada um no fornecimento das encomendas”, revelou a coordenadora do IDANNF.
Navegando pelo site da Rede Produtiva Quilombola, além de comprar alimentos, o internauta poderá também acessar notícias, ver imagens e conhecer um pouco da história das comunidades da rede, onde residem famílias descendentes dos africanos trazidos à força para trabalhar nas fazendas e engenhos de açúcar do Norte e do Noroeste do Rio de Janeiro.
Lucimara Muniz adiantou que a Rede Produtiva Quilombola irá abrir espaço em seu endereço eletrônico para a publicidade de empresas interessadas em apoiar o esforço de venda das comunidades.
"A ideia é destinar o valor recebido através dos anunciantes exclusivamente para o custeio da manutenção do site, responsabilidade que atualmente é dividida pelo coletivo de agricultores. Desse modo, poderemos deixar o lucro obtido com as vendas ser repartido integralmente entre nossos produtores, o que irá aumentar a geração de renda para as famílias quilombolas", concluiu Lucimara.
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